Despediam-se da conterrânea,
proferindo a oração póstuma na língua pátria, homenagem emocionante na hora
derradeira.
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Embora a tristeza do
momento, uma beleza solene envolveu o ato, pois, mesmo na presença da morte, a
expressão comovida de lágrimas puras, quase como uma prece a envolver os
sentimentos sublimando o pranto.
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Kasma, naquela tarde, partia
para o seu merecido repouso deixando a comunidade árabe e todas as demais
pessoas moradoras daquela cidadezinha muito desconsoladas.
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Kasma e Abud eram Libaneses.
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De sua família estavam presentes seu marido Abud e os filhos Salomão, Kalisto, Sarah, Jorge, José, Sada, Clarita, Elias e Assima (também conhecida como Sumeia). Entre sons estranhos de uma língua estranha, a expressão da tristeza no aceno de adeus, poesia dos que ficavam àquela querida que partia.
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De sua família estavam presentes seu marido Abud e os filhos Salomão, Kalisto, Sarah, Jorge, José, Sada, Clarita, Elias e Assima (também conhecida como Sumeia). Entre sons estranhos de uma língua estranha, a expressão da tristeza no aceno de adeus, poesia dos que ficavam àquela querida que partia.
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Olhos marejados em tantas
lágrimas...
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Não se entendiam as
palavras, mas a alma dos presentes podia traduzir na entonação, o sentimento, a
sinceridade e o carinho de todos que ali manifestavam.
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Estranho,... a poesia
declamada nas lágrimas transformando-se em palavras !.
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O céu se transformou de
repente. Entardecia, quase noite. Tudo mudando com o caminhar silencioso, a
brisa como um doce afago, os últimos raios solares em tons tão serenos.
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Pensamentos voltados a
lugares distantes, misteriosos, gélidos nas noites ao amanhecer e causticantes
naquela imensidão do deserto, contrastes dos contrastes, como em um sonho
mergulhado nas maravilhosas estórias do Saara !.
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Véus sobre o rosto, ela
havia se transportado do longínquo por artes do destino caprichoso, aos ventos
tropicais de outra terra.
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Aqueles mistérios do
Oriente, de camelos e aragens quentes, do frescor das águas de Oásis à sombra
de Tamareiras, das areias desconhecidas, aqueles contos de noites em que o
Califa desposava gentilmente a filha do Sultão, ... jaziam lá no passado que se transformou em um
presente de estrelas majestosas em uma poesia sutil diante da cruz simbólica do
sul ocidental.
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Salaam Aleikum... ! Salaam
Aleikum...
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Orações no idioma árabe que
poucos entendiam...
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O doce aroma de tâmaras no cicio
das tamareiras... O deserto, a areia, os véus e seus mistérios,... o caminhar
silencioso de volta às casas daqueles todos entristecidos da pequena cidade,
todos voltados num só pensamento e em um só nome: Kasma !.
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Nas orações nos idiomas não
conhecidos, poder-se-ia entender o sentido de um poema choroso declamado tão
vibrante:
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..Tu, que despertaste à luz
das Mesquitas e te viste crescer à luz de uma terra diferente;
..Tu, que ouviste falar das
noites mais lindas, de encantos, mistérios e lendas férteis de ...imaginação;
..Tu, que acordaste lá e que a
sorte te fez dormir aqui;
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..Ouve:
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..Onde descansas, Kasma,
embora em lugar tão diferente, ouvirás, como consolo, a voz da ..Pátria distante,
na poesia derradeira – como se a natureza pranteasse, também, a ..despedida,
quando a noite velar por teu último sono, à luz do Cruzeiro do Sul, de um ..murmúrio de Palmeiras e lamentos de brisa – algo que então dirá aos teus
ouvidos:
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....- Saudade, gosto tão doce,
....- Saudade tão roxinha,
....- Como tâmara fosse,
....- Da minha querida terrinha
!.
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(esta crônica foi escrita em homenagem ao passamento de Sra. Kasma em Outubro de 1963, na cidade de Tambaú - interior do estado de São Paulo - Brazil. Foi na ocasião publicada no Jornal O TAMBAÚ.).
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Raul Ramos Neves de Abreu
11 abril 2015
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(esta crônica foi escrita em homenagem ao passamento de Sra. Kasma em Outubro de 1963, na cidade de Tambaú - interior do estado de São Paulo - Brazil. Foi na ocasião publicada no Jornal O TAMBAÚ.).
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Raul Ramos Neves de Abreu
11 abril 2015
Bela homenagem!
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