Celia Ramos de Abreu - 1945 (aos 21 anos de idade)
nascida em 23/05/1924 e falecida em 22/04/2010
Querida Mamãe:
A saudade que tenho de você é tão grande que ainda não consegui acreditar que você partiu para o Oriente Eterno há dois dias atrás, e agora ao lado do Mestre Jesus e de Deus Nosso Pai, deve estar junto com Papai Bolivar, todos os seus irmãos, muitos amigos, os seus Pais - Vovô Durval e Vovó Elvira Guiomar (Sinhá), o Vovô Raul e a Vovó Olimpia (Mizica), todos os nossos parentes das familias Ramos, Santos, Neves, Carvalho, Nogueira, Ackerman, Rodrigues, Amaral, Abreu e outros.
Você foi uma pessoa muito especial, uma mulher bonita, inteligente, professora que com tanto carinho fez muitos alunos crescerem com uma formação digna e honrada. Você conseguiu a admiração de tantas pessoas da familia, da comunidade,... tantos amigos que sempre a tiveram com muito carinho.
Nos ultimos cinco anos estivemos só nós dois vivendo juntos, dando alegria e muito carinho um ao outro. Mas você foi a cada instante e sempre o meu PORTO SEGURO, a Palavra Amiga, a Esperança, o Conforto, o Afeto, a Tranquilidade. Você estava sempre sorrindo, mesmo em momentos de dores fisicas ou de outros motivos.
Você, querida mamãe, está no meu coração a todo instante e minhas lágrimas embora de saudade de você, esse egoismo que nós viventes temos, são de agradecimento a tudo que você sempre foi e sempre fez para todos e, em especial, para mim.
Eu vou tentar nos próximos dias deixar essa tristeza que está acabando comigo pois eu sei que todos, como você, são merecedores de um Justo Repouso ao lado do Criador e, você, está nesse momento junto a todas aquelas pessoas que sempre a amaram e que agora também fazem morada na Casa de Deus.
Perdoe-me por todas minhas falhas, minha querida mamãe. Vou tentar e prometo ser melhor a cada dia pois você foi um grande exemplo de vida, de amor, de carinho, de dignidade, de Ser Humano.
Ontem, quando eu me preparava para ir ao local onde foi o seu velório, achei uma caixinha de papelão que continha uma carta escrita por papai, o seu marido, em 25 de Julho de 1945.
Você guardou essa carta por 65 anos e nunca mostrou a ninguém. Tantas vezes procurei alguma coisa em sua camiseira, a seu pedido, e nunca abri qualquer coisa que não estivesse procurando... e confesso que nunca vi essa caixinha. Acho que você já sabia que ia partir e porisso deixou essa carta para que eu achasse e lesse. Você realmente foi muito esperta: "puxou-me" as orelhas com muita sutileza ao mostrar uma CARTA DE AMOR...
Mãe, chorei muito e senti-me envergonhado por ter tantos pensamentos e atitudes profanas, indignas durante toda a minha vida, mesmo que eu sempre tenha tentado e primado por ser um homem de respeito, honesto, moral, educado, justo e carinhoso com todos,... conforme tudo que você sempre nos ensinou ! Mas, sei que cometi muitos erros... principalmente com você pois nesses dias eu não consegui perceber que você sofria tanto de dores que eu imaginava não serem reais.
Perdoe-me pelos momentos que não pude estar tão atento aos sinais. Eu não tenho dormido todas as noites dos ultimos meses, pois sempre ficava preocupado com você e ia até o seu quarto ver se você estava bem. As vezes você estava acordada e eu sentia um alívio que você não pode imaginar. Recentemente você fraturou o fêmur e ficou impossibilitada de andar. Eu ia toda hora leva-la na cadeira de rodas para as coisas que você ia fazer. Eu estava, e ainda estou, com uma lesão no ombro que não pára de doer 24 horas por dia e nem a fisioterapia e nem remédios me fazem melhorar... mas, cada vez que eu ia leva-la até a toalete ou até a sala de jantar ou até a sala para você ver a TV,... as dores iam embora como um passe de mágica.
No dia que você faleceu, há 2 dias atrás, não senti nenhuma dor no braço. Não senti cansaço por não dormir a noite toda e ficar até o ultimo momento ao seu lado. As pessoas não devem entender que eu tenho chorado tanto porque não sabem do meu amor por você e da falta que estou sentindo de levantar e fazer um cafézinho e ir lá no seu quarto convidá-la. Não sabem que estou aqui sozinho mas fico falando com você, como se você estivesse de verdade, ainda, aqui em algum lugar da casa.
Mas eu sei que voce está aqui a todo instante: você está nas fotos, nos objetos, no perfume que está na casa, no ar que tudo diz de você,... mas, principalmente, porque você está aqui dentro do meu coração e no meu pensamento a todo instante desde a hora que vou dormir até todos os momentos em que saio de casa e estou em qualquer lugar.
Querida mamãe, obrigado por ter sido minha mãe e me permitir ter tanto orgulho de poder dizer as pessoas quem foi você, quem é você e que eu tive a grande alegria de conviver com você.
Mãe, agora eu não posso ir ao seu encontro porque também tenho quem irá sentir a minha falta - meus filhos. Rodrigo me escreve toda semana pelo computador ou fala comigo ao telefone e sempre encerra dizendo: "pai eu te amo muito !"... Ele está lá na Dinamarca e virá nos visitar em Julho. Ele queria tanto ver você, viu mãe ? Ele está muito triste também. A Siff , aquela linda esposinha do Rodrigo, também mandou dizer que ficou muito triste e que ela queria muito encontrar com você. E ainda tem a minha linda filha Fernanda que também veio aqui para ver você partir e me fazer companhia. Eu sei que ela me ama muito. Hoje, antes de viajar para a Inglaterra, ela me ligou perguntando-me se eu estava bem e me dizendo que queria que eu ficasse bem porque ela me ama muito. Eu fiquei muito comovido com tanto carinho dos meus filhos ... e porisso mãe, eu ainda tenho que ficar por aqui mais um pouco...
Diga ao papai, ao Vovô Raul, ao tio Dedé, ao primo Rubens, à querida Tia Alice, com os quais jogávamos um Pif-Paf quando reunidos, para prepararem uma boa mesa com amendoim, cerveja e uns queijinhos que eu não vou demorar muito pra chegar e vamos dar uma "surra" neles... (risos).
Bem,... só pra você "matar" a saudade, vou agora registrar algumas frases da CARTA DE AMOR que papai, seu marido, escreveu pra você em 25 de Julho de 1945 (eu não sabia que ele era tão apaixonado por você e fiquei muito emocionado ao ler e sentir todo amor e carinho que ele sempre teve por você !).
- " Querida: quando o coração ama, não se contenta apenas em sonhar sozinho, de longe, com a amada criatura e a saudade. Então, é o "protesto" comovido que se encontra no peito - única voz que pode traduzir o sentimento, os desejos e as esperanças que vão n´alma triste...!
- Valsas e o Luar, são apenas motivos coloridos de recordação e soluçam em vez de cantar, aumentando mais o desespero da distância (solidão) que se veste de sombras e sombras que caminham frias trazendo tanta saudade de você !
- Minh´alma é criança ! E tem sonhos tão lindos e eu quero sonhá-los sempre, ao seu lado, sentindo em meu corpo a carícia das suas mãos graciosas e o suave aroma do perfume que é só seu !
- Meu amor, ... minha querida Célia, que vontade, ... que vontade imensa de tê-la ao meu lado agora e para sempre !
- Como eu a amo, minha linda e tão suave princesa !
- O amor será sempre a nossa vida futura ! E,... que deliciosa será a nossa História de Amor !"
- Receba em seus lábios carinhosos, o carinho do meu beijo. Durma com ele e sonhe com o seu noivo cheio de amor, cheio de grandes saudades ! do eternamente seu,... Bolivar !"
foto do casal Bolivar e Célia - 1948
" Enquanto houver amor em nosso coração, haverá Paz na Terra !
Haverá alegria e felicidade em nossa alma e seremos sempre duas aves enamoradas saudando o festival das alvoradas !...
O corpo será velho, um dia, mas, dentro de rios, haverá sempre a juventude querida do nosso romance lindo - todo feito de um sincero amor !
E, para melhor recordarmos o passado, restará ainda, um dia, "este pedaço de papel" que terá então o sabor das pétalas murchas e perfumadas !... E o doce encanto de quem nunca esquece ... a, ... S A U D A D E ! "
Ribeirão Preto, 19 de Julho de 1948, Bolivar Abreu