sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O JUIZ e o LADRÃO DE GALINHAS !

O Meritíssimo JUIZ Trazíbulo Nogueira, de 41 anos de idade, substituto da Comarca de Varginha – Minas Gerais, ex Promotor de Justiça, concedeu “Liberdade Provisória” a um sujeito preso em flagrante e por ter perguntado ao Dr. Delegado:
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- Dotô, desde quando furto de galinhas é crime neste Brasil de Bandidos ?.
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O Magistrado lavrou então sua Sentença em versos:
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No dia cinco de Outubro,
Do ano ainda fluente,
Em Carmo da Cachoeira,
Terra de boa gente,
Ocorreu um fato inédito,
Que me deixou muito descontente !.
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O jovem Luizmar da Silva,
Conhecido por Pombinha,
Aproveitando a madrugada,
Resolveu sair da linha,
Subtraindo de outrem,
Duas saborosas galinhas !.
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Apanhando um saco plástico,
Que ali mesmo encontrou,
O agente muito esperto,
Escondeu o que furtou.
Deixando o local do crime,
De maneira como entrou !.
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O Senhor Itamar da Costa,
Homem de muito tato,
Notando que tinha sido,
A vítima do grave ato,
Procurou a autoridade,
Para relatar-lhe o fato !.
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Ante a notícia do crime,
A polícia mui diligente,
Tomou logo, do Dono, as dores,
E formou o seu contingente:-
Um cabo e dois soldados,...
E quem sabe até um Tenente !.
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Assim foi que o aparato,
Da Polícia Militar,
Atendendo a ordem expressa,
Do Delegado Titular,
Não pensou em outra coisa,
Senão o ladrão capturar !.
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E depois de algum trabalho,
O larápio foi encontrado,
Num bar foi capturado,
E nem esboçou reação,
Sendo conduzido então,
À frente do Delegado !.
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Perguntado pelo furto,
Que havia cometido,
Respondeu Luizmar da Silva,
Bastante extrovertido:
“ Desde quando roubar galinhas é crime,
Neste Brasil de Bandidos ?!!! “.
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Ante tão forte argumento,
Calou-se o Delegado,
Mas, por dever de seu cargo,
O flagrante foi lavrado,
Recolhendo à cadeia,
Aquele “pobre coitado” !.
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E hoje, passado um mês,
De ocorrida a prisão,
Chega-me às mãos o inquérito,
Que me parte o coração,
Solto ou deixo o preso,
Esse mísero ladrão ?.
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Soltá-lo é decisão,
Que nossa Lei refuta,...
Pois todos sabem que a Lei,
É só pra Pobre, Preto e Puta !.
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Por isso peço a Deus,
Que norteie minha conduta,
É muito justa a lição,
Do Pai destas Alterosas,
Não deve ficar na prisão,
Quem furtou só duas “Penosas” ,
Pois, sei lá também se não tão presas,
“Outras” pessoas bem mais “charmosas” !.
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Afinal não é tão grave,
Aquilo que Luizmar fez,
Pois, nunca foi do Governo,
Nem sequestrou o Português (Abilio Diniz),
E muito menos do “GÁS” (Petrobrás),
Participou alguma vez !.
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Desta forma é que concedo,
A esse homem da simplória,
Com base no CPP,
A sua Liberdade Provisória,
Para que volte logo para casa,
E passe a viver na glória !.
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Se virar homem honesto,
E sair dessa sua trilha,
Permaneça em Cachoeira,
Ao lado de sua família,
Devendo-se, “se ao contrário”,

Mudar-se já para BRASÍLIA,
... onde EM GRANDE FESTA vivem,... 
Os outros de sua Família !.
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Raul Neves Ramos de Abreu
Fevereiro de 2015
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

NO TEMPO DO BAN-LON .

Houve um tempo em que jovens usavam roupas de Ban-lon - aquele tecido sintético nascido nos EUA e que vestiram, entre finais dos anos 50 até alguns dos anos 60, milhões de brasileiros que não se importavam com a inadequada sensação de calor trazida por aquelas blusas, camisetas, conjuntos e até vestidos.
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Naquela época as mulheres não arredavam pé, em suas viagens, se não estivessem acompanhadas de suas frasqueiras e, óbvio, de alguns conjuntos de Ban-lon.
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Na música, Elvis Presley fazia sucesso com " Bridge Over Troubled Water " e esse pop-star do rock-and-roll, deixava as garotas alucinadas quando assistiam a seus filmes sensuais, enquanto que os rapazes tentavam imitar o cantor deixando seus cabelos crescerem para aquele penteado com um "topete de fazer inveja " !.
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Elvis Presley - Bridge Over Troubled Water
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Nos Ginásios, os alunos tinham aulas obrigatórias de idiomas - Inglês e Francês e ensaiavam frases de amor para os  que tanto admiravam e aproveitavam nas tradicionais "quermesses" em festas juninas para o envio de "Correios Elegantes" dizendo anonimamente:-
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- Je T'aime !.  I Love You !.
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Tempos dourados, tempos de alegrias, ingênuos, de inocência, doces ilusões, muita vontade de viver despreocupadamente !.
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Certo dia surgiu uma linda garota, desacompanhada, caminhando pela calçada de uma das ruas principais da cidade... !. Era Julho, temperatura fria, garoando, e ela protegendo-se com uma sombrinha colorida e vestindo um charmoso conjunto, blusa e casaco, de Ban-lon azul !.
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- "Como eu  não tinha visto aquela garota antes ?.".
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Cidade pequena, todas as pessoas daquela idade eram conhecidas, mas aquela garotinha nunca havia sido percebida (por mim) ... ? 

Seria recém chegada de alguma outra cidade ?. Estranho,... tinha uma irmã, de mais idade, que era nossa amiga e participava de nossas costumeiras festinhas em casas de amigos ou no clube social !. 
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Mas,... ela nunca havia sido visto antes ou, pelo menos, percebida até então !.
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Fiquei ali boquiaberto admirando a moça passar:- um rosto angelical, um sorriso tão meigo, um andar tão manso, um jeitinho tão atraente !. A "flecha do cupido" acertou-me de vez !.
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Foi a primeira vez, inesquecível e acabou de vez com o sossego, dando vez à ansiedade, à vontade de conhecer, de conversar, de conseguir sua atenção !.
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Engraçado:- até então, me preocupava somente com encontros com os amigos, as festinhas caseiras, os esportes, jogar bolinha de gude, andar pelas matas, pescar, dançar, ir ao cinema nas matinês,... Coisas de criança chegando à adolescência !.
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Não havia pensado ainda que o coração fosse, de repente, bater acelerado por causa daquela visão tão linda que parecia " O Jardim do Éden " e, menos ainda, percebido que já me tornara um adolescente, um jovem vaidoso, "metido" a homem grande - conquistador, mas, sem, enfim, com aquele necessário "traquejo" para abordar a mocinha !.
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Antes, era "livre, despreocupado, leve e solto", mas, a partir daquele instante ansioso e cheio de sonhos !.
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- Ainda vou conhecer aquela garota e ela será minha namorada !.
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Os dias se passavam e a ansiedade ia aumentando cada vez mais... !.
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Aquela moça do Ban-lon azul... !. Apaixonei-me por tudo que era azul !.
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Alguns dias depois houve um baile no clube e lá estava ela sentada à mesa com seus pais e sua irmã !. ("Melhor", pensei: sou amigo de sua irmã e assim terei o que conversar).
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- Olá, você gostaria de dançar comigo ?.
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Para minha surpresa, alegria e alívio ela levantou-se suavemente com aquele meigo sorriso aceitando meu convite. 
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Dançamos algumas músicas. Pensava em como começar uma conversa, como perguntando de onde ela era já que não havíamos nos conhecido antes, mas... que bobagem já que eu era amigo de sua irmã fazia tempo...!. Falar sobre os amigos, sobre a cidade, sobre qualquer coisa... mas a voz estava presa, o medo tomou conta, o corpo tremendo e nada se falou até a música terminar !.
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Ficou a alegria de ter tido aquela princesa por alguns momentos em meus braços e sentir o seu perfume encantador e inesquecível ... !.
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Os dias passaram, os meses,... os anos !.
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Os tempos mudaram: já não usam Ban-lon, Elvis Presley morreu há muitos anos, não há aulas de Inglês ou Francês nos "Ginásios", ninguém sabe o que é um Ginásio senão apenas o de esportes, as brincadeiras de crianças já não são mais a bolinha de gude, as festinhas na casa de amigos não têm mais aqueles salgadinhos, sanduichinhos e  Ki-suco e nem aquelas vitrolas com as musicas daqueles fantásticos discos de vinil  ... !. 
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As mulheres não mudaram: continuam viajando com suas "frasqueiras", quero dizer:- com especiais bolsas de grifes que evoluíram tomando lugar daquelas outras daqueles tempos !.
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Mas,... algumas coisas não mudaram:- Ainda não consegui dizer àquela garota de Ban-lon Azul, tudo aquilo que me fez sentir e sonhar desde aquele dia que a conheci e desejei que fosse minha namorada !.
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Será que existe a "Máquina do Tempo" ???...  
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Sempre gostei muito das canções de Elvis Presley mas descobri que de nada adiantou o meu cabelo com aquele "topete de pop-star" pois, na verdade, uma fantasia como a máscara de um baile de carnaval acaba escondendo a "fragilidade" do que somos feitos !.
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Será que existe a "Máquina do Tempo" ???...
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Raul Ramos Neves de Abreu
Fevereiro - 2015