segunda-feira, 30 de março de 2009

JOYCE




Joyce era filha de um comandante de uma companhia de aviação portuguesa e perdera sua mãe, fazia 6 anos, por problemas cardíacos. Era filha única e nessa ocasião estava com 10 anos de idade.

Seu Matoso, o Comandante, quando ainda residia em Lisboa, devido a tantas viagens internacionais, resolveu deixar sua filha aos cuidados de sua irmã – Dona Cecilia, que morava com marido e filhos no Rio de Janeiro, todos portugueses. Dona Cecilia era a unica irmã do Comandante.

Após muitos anos de residencia no Rio de Janeiro, o marido de Dona Cecilia, Diretor de uma empresa européia, foi transferido para Ribeirão Preto para a a instalação de uma importante filial dessa mesma empresa. Nessa ocasião, Joyce contava com 16 anos de idade e já estava totalmente ambientada com os costumes brasileiros e, inclusive, já havia adquirido um forte “sotaque carioca” que a tornava ainda mais engraçadinha !.

Durante o mês de Julho, todos os anos, realizava-se uma festa Junina na Casa de Portugal, em um grande salão de um prédio de uns 15 andares, ainda em fase final de construção, onde seria instalado o escritório do Consulado Português na cidade. A festa naquele lugar era tradicional e grande parte da população, descendentes ou não de portugueses, aguardava sempre com ansiedade para participar e desfrutar das comidas típicas ao som de músicas da “terrinha” e, ainda, onde grupos de dança folclórica vindos “além-mar” costumavam se apresentar.

Em uma tarde-noite de sábado, Joyce apareceu em companhia de seus tios e passou a ser a grande atração pois, além de uma beleza e simpatia incomuns, ela conversava com aquele sotaquezinho carioca que encantava a todos os jovens da cidade.

Ela já frequentava um Colégio tradicionalíssimo da cidade, destinado somente a garotas e, portanto era ainda pouco conhecida dos rapazes !.

Ah, que garota linda ! ...

Durante todos os dias daquela semana em que houve festa na Casa de Portugal, ela, magnificamente bela estava lá encantando e apaixonando os corações.... Eu estava lá também !

- Rapaz, voce viu que garota linda? E dizem que o pai dela é um Comandante da Aviação Portuguesa... Ela já conhece o mundo todo !
- É sim, meu pai é amigo dos tios dela e me falou que ela fala várias linguas,...
- Outro dia, eu fui ao clube e ela estava lá na piscina... Voces precisavam ver como ela é linda com aquele maiô,...
- Isso não é nada; eu estou de flerte com ela...
- Não ! Isso não é verdade, ela está dando bola pra mim...,
- Voces aí ficam falando besteira; quem vai namorar com ela sou eu,... ! "

E assim, os rapazes, amigos, fofocavam o dia todo contando seus desejos pela garota, cada um disputando-a com fantasias cada vez mais impossíveis !

Um dia, em um grupo de teatro do colégio estadual, ela apareceu com Maria Clara, sua vizinha e amiga do pessoal. Maria Clara estudava música no Conservatório local e era exímia pianista.

Todos pararam quando elas chegaram... !

- Oi pessoal, hoje eu trouxe a Joyce aqui para apresentar a voces e introduzi-la em nosso grupinho de amigos pois ela está morando na cidade faz alguns meses e deverá permancer por muito tempo. O pai dela, como voces já sabem, é um piloto português e vem pouco ao Brasil. Ela também gosta de tocar violão e canta muito bem...

Os rapazes não resistiram àquela apresentação e foram logo gritando:

- Canta,.... canta,... canta... !

Joyce cantava em vários idiomas e tinha uma voz muito doce ! Começou a cantar uma canção em francês, tão suavemente, tão meiga, tão bela, tão romântica, que todos prenderam a respiração, em atenção, e não se ouviu siquer o mínimo ruido dos presentes, senão apenas “o barulho do silêncio” e o pulsar dos corações !

...“Je suis venue te dire que je m'en vais,... Et tes larmes n'y pourront rien changer,... Comme dit si bien Verlaine au vent mauvais, ... Je suis venue te dire que je m'en vais ! ...Tes sanglots longs n'y pourront rien changer, ..Je suis venue te dire que je m'en vais, ...Tu t'souviens des jours anciens et tu pleures, ... Tu soffoques, tu blèmis à prèsent qu'à sonnè l'heure, ... Des adieux à jamais, ... Je suis au regret de te dire que je m'en vais, ... Je t'aimais, oui, mais, ... Je suis venue te dire que je m'en vais !”...

Certa tarde encontrei-a pelo caminho, andando e olhando triste, melancólica.

- Joyce, que bom encontrá-la... Mas que tristeza é essa ?
- Hoje estou lembrando de minha mãe,... faz aniversário que ela se foi...

Olhei-a silenciosamente e abracei-a com carinho. Joyce não resistiu e abraçou-me forte enquanto lágrimas desciam como o orvalho da madrugada, deslizando também em meu rosto... Não sei dizer quantos minutos ali ficamos abraçados em silencio, mas pareceu-me uma eternidade e tão suave quanto um passeio para o paraíso, entre nuvens coloridas, sinfonias angelicais, e um rufar de tambores do compasso de meu coração !

Beijamo-nos sem nada falarmos. Olhamo-nos e seguimos adiante de mãos dadas, trêmulos, emocionados e apaixonados !

Não sei como as coisas podem acontecer assim: desde o primeiro momento que vi Joyce, fiquei ali admirando tanta beleza sem nada dizer, sentindo uma pulsação como nunca houvera sentido, mas com esperanças de algum dia poder te-la ao meu lado. E, de repente, estávamos de mãos dadas seguindo felizes, sentindo o mundo todo nos observando...

A partir daquele dia a vida se transformou: Tudo eram flores, a Lua mais bonita, o Sol mais imponente, o Mar mais azul, as Flores mais perfumadas, as Músicas mais bonitas, ... o Nosso Amor, o mais belo e puro !

Os meses foram se passando...

Nosso grupinho de amigos estava sempre em festa e nós, eu e Joyce, estávamos ali em todos os momentos fazendo juras de amor e trocando beijos apaixonados enquanto que os amigos nos olhavam admirando.

Um dia, ela chegou toda sem jeito, sem conseguir falar, aflita, ansiosa...

- Nem sei como dizer, ... Meu pai chegou e agora está casado novamente. Ele veio me buscar...Eu vou voltar para Portugal !.

Nunca senti tanta dor no coração como naquele momento. Minhas lágrimas não me permitiam dizer qualquer coisa e nós ali chorando como duas crianças que realmente éramos. Abraçamo-nos e ficamos ali naquele banco de jardim silenciosos, esperando o tempo passar...

Fomos até minha casa. Não havia ninguém. Entramos em meu quarto e coloquei um disco para tocar:

... “ Je suis venue te dire que je m'en vais,... Et tes larmes n'y pourront rien changer,... Comme dit si bien Verlaine au vent mauvais, ... Je suis venue te dire que je m'en vais ! .”

E ali, como homem e mulher, nós nos amamos pela primeira e única vez !

Joyce foi embora na semana seguinte para seu País e apesar de nossas inúmeras cartas, ... nunca mais nos vimos !

Mas, ... o nosso amor ficou marcado para sempre e enquanto vivermos !

Saudades... !

Raul Abreu
Set / 2009

sábado, 21 de março de 2009

LEMBRANÇAS


Ah,...  o Outono chegou mais uma vez em  nossas vidas !

Tudo lá fora está novamente "daquele jeito " que faz meu coração pulsar tão estranhamente, de tanta saudade  e lembranças que tenho de você e de nossos momentos  tão sublimes  que pudemos desfrutar tão feliz e intensamente !

O  tempo parece estar parado, como se hoje fosse um domingo à tarde com as pessoas recolhendo-se para novas energias necessárias que o dia seguinte haverá de pedir. Não parece haver ventos, não há calor, não há frio, não há nuvens, parece não haver pessoas apesar que estou em meio à multidão que caminha ... calada, sorrindo, pensativa, ofegante, letárgica, enérgica, confusa, de todo jeito, ... sei lá,... mas não sei pra onde e menos ainda pra quem...

Estou caminhando também, embora só, com só você em meu pensamento e sei que vou encontrar !

Hoje é dia de meditar, ouvir lindas músicas, sonhar... ter você em meus braços, silenciosamente, delicadamente... e amar !

Naquele nosso quarto, a janela quando aberta exibia lindas flores lá fora... O vento soprava suavemente em nossos rostos e toda a ambiência fazia com que nossos corações vibrassem tão sutilmente, com tanta felicidade, sem preocupações, sem pressa, sem compromissos, sem nada pra fazer depois a não ser apenas amar,... amar,... amar !

Uma taça de vinho e mais outra,... logo mais mais um pouco, em taças trocadas, tocando os lábios e fazendo juras de amor. O tempo passava mas nada passava, tudo à nossa volta estava ali e ali ficava observando sentado de cotovelos apoiados aos joelhos, do tempo, sorrindo em nossa direção espreitando a doçura singela de nosso amor.

Chegou o Outono novamente e com ele o calor da chama de nossas juras de eterno  amor,... sublime.

Folhas de Outono fazem lembrar, eu e você, nós dois e o mar...

Estou com saudade... 

" Autumn Leaves"  -  The Best of Richard Clayderman

Raul de Abreu
21 / 03 / 2012
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