domingo, 18 de dezembro de 2011

PAPAI NOEL CHEGOU !

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Estava fazendo uma tarde maravilhosa na véspera de Natal, nem parecia verão! Logo pela manhã quando o leiteiro bateu à porta, lá pelas 7 horas, o dia estava maravilhoso. O Sol prometia um dia de muita luz, um céu limpinho com algumas nuvenzinhas brancas formando carneirinhos.

O quintal estava florido e a grama molhada pelo sereno da madrugada. O vento estava fresquinho e as pessoas mais idosas, na rua, andavam com algum agasalho. Nem parecia verão!

- Manhê... Hoje é dia de Natal?
- É hoje sim. Hoje à noite vamos fazer uma bela ceia de Natal. Sua tia Jair e seus primos virão à nossa casa e vamos fazer uma grande festa. Vai ter bolo, doces, castanhas, aquele pudim que você adora, um pernil assado que já mandei na padaria da Dona Maria pra assar e sua tia vai trazer uma leitoa à pururuca.
- Vai ter champagne também?
- Vai ter champagne, vinho, aquele ponche delicioso com frutas, tâmaras, e muitas outras de Natal !.
- Será que eu vou ganhar o meu presente de Natal?
- O que você pediu?
- Eu pedi um revolvinho de espoleta de repetição igual ao do Roy Rogers.
- É possível que você ganhe sim. Vamos esperar pra ver!

O dia não passava de tanta ansiedade que todos sentiam. As crianças, pelos presentes que iriam ganhar, os adultos pelas festas que organizavam em suas casas.

Netinho parecia uma “barata tonta” andando da cozinha até o alpendre da casa e, às vezes, dando voltas no quarteirão para encontrar seus amigos e conversar sobre os pedidos que haviam feito ao Papai Noel.

Ele tinha nove anos de idade e naquele natal queria ganhar um revolvinho igual ao do cow-boy que aparecia em todas as matinês dos domingos. Ano anterior ele havia ganho uma bola de “capotão” que durou pouco tempo porque o couro não era de boa qualidade e estragou logo.

A noite chegou! Logo às sete horas todos de banho tomado e com suas roupas de natal.

- Manhê, que horas que a tia vem em casa?
- Espera um pouco Netinho. Ela vem já já. Não vai demorar. Mas a ceia só vai começar às dez da noite. Se você está com fome, pode comer umas frutinhas que seus primos logo logo estarão aqui.

Não tinha televisão na casa. A vitrola tocava musicas de Natal, todas orquestradas e com harpas paraguaias.

Tia Jair chegou com seus sete filhos. Era umas oito e meia da noite. Netinho não agüentava mais de ansiedade e sono.

Os primos, quase todos da mesma idade, foram logo para a rua encontrar com os amigos vizinhos e contar suas expectativas sobre os presentes, assim como trocar informações sobre os preparativos de comidas e bebidas em cada casa. E, é claro, contar "vantagens !".

- Na minha casa minha mãe vai fazer Ponche. É uma bebida francesa que tem muitas frutas e até champagne de verdade. Eu vou beber, minha mãe deixou.
- Na minha casa a minha mãe está fazendo leitoa.... (disse Pedrinho, o vizinho)
- Ah, na minha também vai ter leitoa e até vai ter Peru que minha tia trouxe (respondeu Netinho)

E assim, cada um contava o que ia acontecer em sua casa, procurando dizer que seria melhor que a do amigo. Nada era diferente, cada um queria contar mais vantagem.

Quando deu nove horas da noite, a mãe de Netinho veio até o alpendre da casa e gritou:

- Alô cambada! Vem logo macacada que a bóia já está na mesa ! Quem chegar por último vai ser a mulher do sapo!
Todos saíram correndo com aquele sorriso maravilhoso e olhos arregalados !


Na sala da casa havia um presépio, tradicionalmente montado desde os tempos que a mãe de Netinho era criança. Todo enfeitado com bolas coloridas, velinhas coloridas, ramos de cipreste que dava um cheirinho todo especial, miniaturas das pessoas, dos animaizinhos – lembrando o nascimento de Jesus.


As crianças paravam ali e ficavam admirando com muito respeito, ajoelhavam e faziam uma oração.
A festa iniciou às dez horas da noite. O pai de Netinho fez uma oração e em seguida abriu uma champagne. Todos aplaudiram, em grande alegria e iniciaram aquela farta comilança!
- Manhê... e os presentes?
- Espera um pouco, Netinho. Terminando a ceia vamos abrir os presentes.





















Netinho ganhou mesmo o revolvinho de espoleta de repetição, com cinturão, igual ao do Roy Rogers. Ganhou também um chapéu de cow-boy e um pacotinho de bombons. Seus primos ganharam outros presentes, como um caminhãozinho de bombeiro, um trenzinho a pilha, roupas, etc.

No dia seguinte todas as crianças estavam no campinho de futebol – um terreno na esquina da Rua Santo Antonio em frente ao Açougue dos Videira, onde costumeiramente faziam suas “peladinhas”. Primeiro de tudo começaram a exibir seus presentes e contar sobre tudo que comeram e beberam.

- Ontem eu tomei um ponche que minha mãe fez e até comi umas frutas que vieram lá da terra dos turcos – uma tal de tâmara que só dá no deserto.
- Ah, na minha casa também tinha dessa fruta, mas eu não gostei. Eu gostei mesmo foi de maçã que veio da Argentina.
- Ih, na minha casa teve até um presunto italiano...
- Na minha também teve champagne...
- Meu pai comprou uma latona de bolachas...

Ficaram algum tempo contando suas novidades e finalmente resolveram jogar a tradicional “peladinha” com a bola de capotão que Joãozinho havia ganho. Bola novinha, oficial, Gaeta, que nunca alguém tinha ganho ainda.


Formaram o time conforme as afinidades. Joãozinho era um menino bem gorducho, mais novo da turma e que não jogava bem. Ele era o dono da bola e, por isso, tinha que jogar.

Ninguém passava a bola para ele  que só ficava gritando:

- Aqui,... aqui... passa a bola pra mim senão eu levo a bola embora !

Meia hora depois, Joãozinho começou a chorar porque ninguém passava a bola pra ele. Então ele correu até a bola, pegou-a firme com as mãos, chorando de escorrer lágrimas e soluços e, sacudindo a pança, foi logo correndo pra casa reclamando:

- A bola é minha, ... a bola é minha, ... a bola é minha!

Ficaram todos paralisados observando  aquele menino atravessar a rua em direção a sua casa. Mas, ... com tantos presentes que ganharam, esqueceram imediatamente e foram logo pegá-los para suas brincadeiras.

E assim era... cada qual guardava seu brinquedo com muito cuidado !

Netinho colocou o cinturão do seu revólver, o chapéu de cow-boy, estufou o peito e bradou:

Aeieooooooo... Silver !. Vamos galopar, matar os bandidos e salvar a mocinha ! (havia uma garotinha que morava depois da ponte do riacho !)

Em cada Natal, desde aquele, bate uma emoção muito forte no peito e não é possível conter uma lágrima de saudade, de alegria, nostalgia.... sei lá... ! Ah, se se pudesse congelar o tempo e ser eternamente criança... !

Que as alegrias do Natal sejam permanentes nos corações de todos, permitindo que cultivem sempre com muito carinho essa linda criança que há dentro de cada um !

Manhêeeeeee .... !   Aieeoooooooo, Silver !”
-    o    -

Muitos anos já se passaram mas continuam todos na memória. Quanta saudade !
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Raul de Abreu
31/12/2009

Um comentário:

  1. estou em QAP disse...
    bonito texto,
    abç, Sandra
    30 DE DEZEMBRO DE 2007 00:29

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