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Não me perguntem por que usei a palavra “SEMÂNTICA” para contar a história da velhinha. Eu não sei o que é semântica, mas achei que é uma palavra muito “ROMÂNTICA” e coisa que é romântica serve para qualquer coisa !. Tenho dito. Pronto. Falei !.
Não me perguntem por que usei a palavra “SEMÂNTICA” para contar a história da velhinha. Eu não sei o que é semântica, mas achei que é uma palavra muito “ROMÂNTICA” e coisa que é romântica serve para qualquer coisa !. Tenho dito. Pronto. Falei !.
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Nasci no
interiôôôrrrr e por isso dizem que sou caipira. Mas eu não falo “pórta abérta,
calôôôrrr, dotôôôrrrr... etc.” tudo isso porque meus avós eram CARIOCAS e
falavam de forma chique do tipo: “poisx, talveizxx, Robérrreeetooo, Mêrrimão,
etc.”. Meus amigos de lá falavam meu nome “Raurrrr” o meu irmão “Jérfi”, tudo
bem carregado nos “R” e bem acentuadamente.
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Então,
nada a ver comigo, havia a mocinha de nome Maria, filha de João e Maria, que
havia nascido na roça. Tinha várias irmãs e irmãos: Maria Aparecida, Maria
José, Maria Antônia, Maria das Dores (acho que foi por causa do parto), Maria
do Carmo, José, José Antônio, José Roberto, José Paulo e, finalmente a nossa
Maria personagem deste conto que foi batizada com o nome de Maria da Conceição
Rita da Silva.
MARIA DA CONCEIÇÃO
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Certo dia,
Seu João arranjou um emprego de doméstica para Maria na casa de Dona Alberta,
uma senhora de mais de oitenta anos (80) de idade que já estava bem velhinha e
vivia sozinha, pois seus filhos moravam
na Capital.
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Maria
fazia de tudo: lavava e passava a roupa, fazia a comida, limpava a casa e ainda
cuidava de Dona Alberta. Eram boas amigas.
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Dona
Alberta sempre ensinava as coisas para a Maria que não tinha sido alfabetizada.
E assim, de letra em letra, palavra em palavra, ia Dona Alberta com Maria todos
os dias...
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Seu
Sebastião era professor e muito amigo da família de Dona Alberta e, vez em
quando, visitava aquela doce senhora e ajudava também na educação de Maria. Ele
era um cavalheiro, bonitão, alto, muito educado e bem casado (já vou dando a
“ficha dele” pra ninguém me cobrar de ter colocado o homem na história).
Professor Sebastião
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Contava
histórias para Maria a fim de que ela pudesse aprender cada vez mais as coisas
da gramática e ortografia, forma de se comunicar, além de conhecimentos gerais.
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Maria, com
seu jeito simples, dizia tudo à sua moda conforme havia aprendido na roça:
Pórta abérta, tórta de frango, ninguém simpórta,... trepei na jabuticabeira...
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- Opa!
Trepei na jabuticabeira ? Não é assim que se diz Maria. Uma moça educada deve
dizer: Subi na jabuticabeira, escalei a jabuticabeira, fui ao tôpo ...
- Nossa,
Seu Sebastião que coisa esquisita: nóis tem que falar desse jeito ?
- Tem sim
Maria. Desta forma você será sempre bem vista pelas pessoas. E tem outras
coisas que vou lhe ensinar com o tempo.
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E assim, durante
alguns meses, ia a vida na casa de Dona Alberta com a Maria e os ensinamentos
gerais...
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Um dia
Maria viu o gatinho de Dona Alberta morto caído no chão e quando chegou seu
Sebastião foi logo dizendo:
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- Ai, Seu
Sebastião o gatinho da Dona Alberta trepou no telhado pra pegar um ratinho,
escorregou e caiu mortinho no chão. O que é que eu faço agora para avisar a
Dona Alberta ?
- Maria,
vou lhe ensinar uma coisa: Não é assim que se fala: “trepou”. Eu já lhe
ensinei, você deve dizer “ o gato subiu no telhado” que fica uma forma mais
educada. Então, quando você for contar para a Dona Alberta, fale bem calmo para
ela não sofrer e diga: “ Ah, Dona
Alberta, o coitadinho do seu gatinho subiu no telhado para pegar um ratinho !”
E quando ela perguntar se ele pegou o ratinho, você responde: “ acho que não
Dona Alberta porque o coitadinho está lá caído no chão !.” Assim, Dona Alberta
já vai entender que o gatinho morreu. Entendeu ?
- Ah,
entendi Seu Sebastião. O gato subiu no telhado... Está bem. Aprendi.
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Passados alguns
dias, Maria chegou para o trabalho e percebeu um silêncio enorme na casa. Foi
ao quarto de Dona Alberta e viu que a coitada estava quietinha na cama.
Aproximou-se para acordar a velhinha, mas ela já estava morta. Coitadinha,
morreu sem fazer nenhum barulho, sem sofrer, como um Anjinho. Maria,
desesperada, foi logo avisar um parente próximo de Dona Alberta que estava
tomando café na padaria. E foi logo gritando, à sua maneira, lembrando dos ensinamentos
que Seu Sebastião havia falado sobre o gato, que ela deveria usar de sutileza
para contar sobre a morte.
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- Seu
Zé,... Seu Zé,... sua tia a Dona Alberta,... sua tia Dona Alberta...
- O que
foi, Maria ?. Conta logo...
- Sua tia
trepou no telhado pra pegar um gato ! É
Seu Zé,... coitada. Ela trepou com o gato no telhado...
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O povo
todo que estava na padaria, arregalou os olhos !.
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Seu Zé,
sem jeito e envergonhado, não entendendo nada o que Maria dizia, correu para a
casa da tia para ver o que havia acontecido. Coitada: estava “mortinha da
silva” !. Então ele já foi até a Funerária local para providenciar tudo que
deveria ser feito e começou a avisar a família e os amigos.
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O pessoal
da padaria começou a comentar:
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- Nossa, a
velhinha bateu as botas !
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Quando
Dona Alberta já estava no velório, todos os conhecidos já comentavam o
ocorrido:
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- Estão
dizendo que a coitada estava doente...
- Não foi
isso não, parece que ela estava bem mas morreu de morte súbita enquanto
dormia...
- Ih,
pessoal, lá na padaria a Maria falou que ela estava trepada no telhado...
- No
telhado ? Fazendo o quê ?
- Parece
que foi atrás de um gato !
- Um gato
?
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- Sempre
achei aquela velha muito assanhada...
- Ih, eu
já vi ela dando em cima do meu marido...
- Onde já
se viu uma velha daquela idade querer um “gato” pra farrear ?
- Bem
feito ! Sirigaita que nunca me enganou !
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E assim
passaram as horas, com todo o tipo de comentário até o momento final !.
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Dona
Alberta, coitada, morreu pura como água cristalina da fonte mas, por uma
questão “romântica de semântica” passou a ser comentada pelas senhorinhas de
boa reputação como “A velha assanhada que morreu por que trepou com um Gato !.”
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E a Maria,
coitadinha,... voltou para a roça, ficou louca e está lá até hoje falando
sozinha: “ o gato trepou no telhado,... o gato trepou no telhado...!”.
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Raul de Abreu
01 Agosto 2014
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