O SOL, próximo a Uberlândia, estava Majestoso: Uma linda e envolvente Luz dava cores e alegre vida a toda a paisagem: os campos das fazendas, as robustas árvores, as perfumadas flores, os pássaros em revoada buscando o abrigo para o anoitecer, as montanhas distantes,... o Apito do Trem anunciando a chegada e os corações disparados de emoção para o encontro com os amigos, parentes ou mesmo para aqueles que pela primeira vez, como eu que pisava naquele sagrado solo !.
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UBERLÂNDIA : Que linda cidade em um lugar tão privilegiado e certamente abençoado !.
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Interessante: Eu estava sozinho e fui recebido com sorrisos e muito carinho por aqueles que ofereciam o transporte, em charretes ou mesmo táxis, dando boas vindas e dizendo:
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- Uai, moço !. O Senhor quer pegar esse "trem" ?
- Não, moço, eu acabo de descer do TREM e quero ir para a casa de um amigo de escola.
- Não, moço. Falei "trem" porque aqui para tudo nós falamos "trem". e eu estou perguntando se o senhor quer ir até a casa de seu amigo com a minha carrocinha, que chamo de "trem", ou com aquele outro "trem do automóvel "!.
- Ah,... agora entendi. Então é por isso que aqui se fala muito " Hei Trem Bão !.. Né ?"
- Uai, Sô. Cê já tá falando como mineiro !.SÔ !.
- Bem, o senhor desculpe a brincadeira, mas onde eu moro, em Ribeirão Preto, dizem que os mineiros só falam em "TREM" e "QUEIJO".
- Queijo ?. Tá aí, seu moço, esse "trem é bão dimais Sô !".
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Aceitei o convite do Sr. José e fui de charretinha até o destino previsto. Nossa conversa foi muito engraçada e acabei aprendendo muitas expressões da região.fui até a casa de meu colega de escola, que morava na Rua Princesa Isabel, número 745.
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A casa era interessante, pois era um terreno muito grande. Em sua entrada, à esquerda havia uma construção onde havia TRÊS quartos e UM banheiro, onde CINCO irmãos dormiam. Ao fundo, ficava a Casa do Sr. João e Dona Maria e suas TRÊS filhas. Havia uma varanda muito aprazível, coberta, com muitas poltronas em couro, onde Sr. João, fazendeiro, passava horas contando histórias e fumando o seu cigarrinho de palha.
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A casa era muito grande, a sala com mesa para talvez uns DEZ lugares e ainda havia um Piano, uma grande estante para livros, um corredor do lado direito onde ficavam os quartos das filhas e dois banheiros. Do lado esquerdo, havia um corredor onde ficava o quarto do casal e, acho, deveria ser uma Suíte pois não tive oportunidade de entrar ali, porque achei que não ficaria bem mostrar-me curioso demais.
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Como chegamos quase às SEIS HORAS da tarde, fui encaminhado pelo meu amigo, Vilmar para acomodar-me no quarto onde dormiam os irmãos.
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Interessante que todos os irmãos tinham nomes terminados em "MAR". Assim, tinha o Vilmar, o Valdemar, o Luizmar, Ademar e Altemar.
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Em seguida fomos até a casa principal, sendo recebido com muita alegria pelo casal e pelas irmãs de Vilmar.
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O jantar foi uma delícia: Serviram inicialmente uma sopa de legumes com carnes e depois um prato de massas.
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Fiquei admirado com a Recepção. Não imaginava que na casa de um Fazendeiro, houvesse tanto "finesse" para suas refeições. Fiquei envergonhado pois, logo após tomar a sopa, coloquei no mesmo prato a massa tão saborosa que haviam preparado.
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Sr. João perguntou-me: Você não quer trocar seu prato para comer a massa ?.
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Envergonhado, percebendo a gafe cometida, respondi: " Ah, Sr. João é que o caldinho da sopa estava tão gostoso que achei melhor comer a massa no mesmo prato... !"
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No dia seguinte, o "desjejum", ou o "famoso café da manhã", foi fartamente FARTO: havia bolos, compotas, queijos de várias espécies, pães caseiros, biscoitos, sucos, café, leite e muitas frutas. Ufa !. Pensei: " como é possível comer tantas coisas e ficar tão esbelto ?. Não havia ninguém naquela casa que estivesse "fora de forma", principalmente as lindas TRÊS filhas do casal. Claro, precisei tomar muito cuidado para não perceberem que eu observava como eram bonitas, pois, primeira vez na casa dos pais do meu amigo Vilmar, não ficaria nada bem que alguém fizesse alguma observação não muito positiva sobre meu comportamento. Mas, ao mesmo tempo, elas ficavam olhando e fazendo comentários entre elas, o que eu imaginava que fosse de alguma admiração e interesse.
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O almoço foi uma comida típica mineira, frango ao molho com quiabo, arroz, feijão, farofas, angu (polenta mole) e sobremesas gerais com queijo, goiabada e muitos doces ou compotas.
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Logo após o almoço, os SEIS
MOSQUETEIROS (Eu e os CINCO irmãos) foram passear pelas ruas de Uberlândia
passando pelas escolas, clubes sociais e os locais onde os jovens mais
frequentavam durante as tardes para “jogar conversa fora” e manter os bons
relacionamentos de amizades.
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Como era uma Sexta-Feira, à noite
haveria um bailinho no Clube onde a família também era sócia. Assim, todos,
exceto as filhas do casal foram ao Clube e conheci um número ainda maior de amigos
e amigas. Aquelas lindas mocinhas, dançavam muito bem, mas não conheciam ainda
dançar os ritmos mais recentes como Twist e Hully Gully o que foi um fato muito
importante para que as amizades aumentassem ainda mais. Um desconhecido na
cidade, desde que bem acompanhado de bons amigos, sempre traz boas novidades e
é bem recebido, o que aconteceu e deixou-me cada vez mais à vontade naquela
linda cidade.
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Dia seguinte, Sábado, a rotina
daquela linda mesa do café. Pensei: “como é possível resistir a tantas
guloseimas ?”.
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À tarde, ainda reunidos no Clube,
se não houver engano, de nome Tênis Clube, onde havia uma linda piscina brincamos
muito. Havia também um Trampolim razoavelmente alto onde poucos tinham experiência e
coragem de lá do alto “mergulharem” naquelas deliciosas águas. Fui desafiado a
demonstrar “coragem” e, já acostumado a essa atividade em minha cidade, sem
lhes contar, subi a escadaria que levava até aquele trampolim e fazendo um
pouco de “medo”, pulei e mergulhei tranquilamente, o que favoreceu ainda mais
as amizades com aquelas pessoas que já conhecia e outras novas que vieram
cumprimentar.
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Assim, a cada instante uma
novidade muito agradável acontecia e Vilmar e seus irmãos foram a todo instante
muito atenciosos, além de seus pais e das suas belas irmãs.
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Chegou o último dia de minha
estadia, o que foi comemorado com um churrasco completo onde muitos convidados
compareceram e a festa acabou se estendendo até o horário de dormir, talvez
umas DEZ horas da noite. Festa regada a
muita música, cantores embalados pelas caipirinhas e cervejas e muita comida,
alegria, amizade e bem querer entre todos.
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Confesso minha tristeza que
aproximava o momento de voltar para aquela Estação de Trem onde pela primeira
vez pisei em solo mineiro. Mas, logo pela manhã, cumprindo o estabelecido, fui
acompanhado pela família toda e um grande número de amigos que conheci naqueles
dias. Triste partir, mas a alegria de lá ter estado foi assunto durante muito
tempo tornando-se inesquecível.
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O Chefe da Estação, todo
uniformizado e com aquele tradicional Quepe da Profissão, tocou o apito
avisando aos passageiros para que tomassem seus lugares pois o trem já estava
no horário de partir.
Sr. João foi o primeiro a
abraçar-me, convidando-me para retornar muitas vezes e agradeceu a amizade e
respeito que mantivemos.
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Em seguida Dona Maria abraçou-me
emocionada, reforçando o mesmo convite do marido. Depois as três filhas, que
até então havíamos nos relacionado de forma muito respeitosa, vieram abraçar-me
em lágrimas e até recebi beijos no rosto. Ah, que lindas garotas .
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Assim também os irmãos e vários
amigos. Nada poderia haver de melhor.
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O TREM iniciou o retorno a Ribeirão Preto.
Fiquei sim muito emocionado, sorrindo e derramando lágrimas de alegria,
apreciando cada pedacinho da estrada, das matas, das flores, das montanhas, das
Estações, dos acenos dos colonos trabalhando nos campos, dos ambulantes
vendendo os variados produtos, do pessoal passageiro conversando sobre tantas
coisas, da ansiedade sobre a chegada, sobre os deliciosos momentos, cada minuto, que tive a grande
oportunidade de desfrutar com pessoas tão gentis e, finalmente, do sentimento
tão forte que invadiu meu coração pois aprendi muitas lições que fizeram com
que minha vida se tornasse cada dia ainda mais desejada de viver bem, sem
medos, confiante e seguro de que vale muito procurar conhecer aquilo que o
coração às vezes nos deixa inseguros. Viajar de Trem, não era meu habitual e justamente por ter passado por
essa linda experiência carrego sempre as melhores lembranças de tudo de tão bom
que aconteceu.
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“ O TREM DE NOSSAS VIDAS, representa
um CONVITE para uma viagem, por onde talvez ainda não tenhamos passado, talvez sim
imaginado, talvez sim desejado, talvez ... talvez... talvez,... mas que a todo
instante somos estimulados a TOMAR UMA
DECISÃO, pois eis que as constantes indagações e inseguranças, os medos
naturais que por vezes nos atormentam e não conseguimos deles nos libertar
imaginando os seus resultados: SEREI FELIZ ou TEREI ARREPENDIMENTOS ?. Deixemos, sem medos, para que tudo siga seu caminho suavemente, confiante, com vontade de encontrar-se e
o Chefe da Estação com seu lindo uniforme, todo bem passado e engomado irá
apitar com um largo sorriso quando de sua chegada, anunciando: Que alegria que
você chegou, tão Radiante, tão Feliz e com o Coração em Paz !”.
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UBERLÂNDIA !.
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Os caminhos que conheci até
aquela cidade, mostraram-me a Grandeza dos sentimentos das pessoas, a
Sinceridade, a Amizade e o Amor.
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Tudo isso é simbólico, "metafórico", pois precisamos
acreditar que nossa vida é como uma LINDA VIAGEM DE TREM: - Segura, Tranquila, de
muita Paz e muito Amor . Para tanto, que se superem as dúvidas, os medos e sejam aceitas as oportunidades da entrega à busca das verdades que se encerram para se alcançar a FELICIDADE tão desejada.
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Saudades, gratidão !
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Raul Ramos Neves de
Abreu
27 / 02 /
2020
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