quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O TREM DE NOSSAS VIDAS !

" O TREM "
CRÉDITO da Foto: DIVINO SILVA
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Certa vez, há muitos anos atrás, quando ainda muito jovem, fiz uma viagem de Trem com destino a Uberlândia em Minas Gerais. Fui muito ansioso, pois era a minha primeira viagem a lugar tão distante e, melhor ainda, para uma cidade de outro Estado do País.
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Emocionante: tudo verdejante, lindo, novidades, os povoados durante o trajeto, as pessoas nas pequenas Estações (paradas) e também camponeses na lida, "acenando sorridentes" às pessoas que nas janelas, também com fartos sorrisos não só acenavam mas diziam palavras de carinho, admiração, respeito e alegria de por aqueles lugares estar passando, talvez pela primeira vez ou costumeiramente.
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Era minha primeira viagem àquele destino. Fiquei admirando tudo e comecei a pensar:
" Acho que nossas vidas não passam de uma VIAGEM DE TREM pois em vários momentos estamos em lugares diferentes que nunca dantes imaginávamos existir, há movimentações de embarques e desembarques de passageiros, há pessoas que nunca vimos antes e passamos a conhecer e falar sobre nossas vidas, ...  Histórias Interessantes, Surpresas, Alegrias, Sonhos, Fantasias, Esperanças, Paz, Amor, Paciência, Bondade, Felicidade, Equilibrio e o Domínio Próprio que deve nos manter Confiantes sobre  Onde nos levará o TREM DE NOSSAS VIDAS !. Que Emoção incrível, pois, imaginei que  SE NÃO TIVESSE EXPERIMENTADO AQUELA VIAGEM, NADA TERIA CONHECIDO e, talvez, estivesse hoje sofrendo e muito arrependido, pois teria PERDIDO A OPORTUNIDADE ÚNICA DE CONHECER O QUE  NOS ESPERA QUANDO TOMAMOS A DECISÃO, COM CORAGEM, DE ASSUMIR ESSA MISTERIOSA VIAGEM: - A REALIZAÇÃO OU O ARREPENDIMENTO ?!!!. "
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O SOL, próximo a Uberlândia, estava Majestoso:  Uma linda e envolvente Luz dava cores e alegre vida a toda a paisagem: os campos das fazendas, as robustas árvores, as perfumadas flores, os pássaros em revoada buscando o abrigo para o anoitecer, as montanhas distantes,... o Apito do Trem anunciando a chegada e os corações disparados de emoção para o encontro com os amigos, parentes ou mesmo para aqueles que pela primeira vez, como eu que pisava naquele sagrado solo !.
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UBERLÂNDIA : Que linda cidade em um lugar tão privilegiado e certamente abençoado !.
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Interessante: Eu estava sozinho e fui recebido com sorrisos e muito carinho por aqueles que ofereciam o transporte, em charretes ou mesmo táxis, dando boas vindas e dizendo:
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- Uai, moço !. O Senhor quer pegar esse "trem" ?
- Não, moço, eu acabo de descer do TREM e quero ir para a casa de um amigo de escola.
- Não, moço. Falei "trem" porque aqui para tudo nós falamos "trem". e eu estou perguntando se o senhor quer ir até a casa de seu amigo com a minha carrocinha, que chamo de "trem", ou com aquele outro "trem do automóvel "!.
- Ah,... agora entendi. Então é por isso que aqui se fala muito " Hei Trem Bão !.. Né ?"
- Uai, Sô. Cê já tá falando como mineiro !.SÔ !.
- Bem, o senhor desculpe a brincadeira, mas onde eu moro, em Ribeirão Preto, dizem que os mineiros só falam em "TREM" e "QUEIJO".
- Queijo ?. Tá aí, seu moço, esse "trem é bão dimais Sô !".
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Aceitei o convite do Sr. José e fui de charretinha até o destino previsto. Nossa conversa foi muito engraçada e acabei aprendendo muitas expressões da região.fui até a casa de meu colega de escola, que morava na Rua Princesa Isabel, número 745.
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 A casa era interessante, pois era um terreno muito grande. Em sua entrada, à esquerda havia uma construção onde havia TRÊS quartos e UM banheiro, onde CINCO irmãos dormiam. Ao fundo, ficava a Casa do Sr. João e Dona Maria e suas TRÊS filhas. Havia uma varanda muito aprazível, coberta, com muitas poltronas em couro, onde Sr. João, fazendeiro, passava horas contando histórias e fumando o seu cigarrinho de palha.
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A casa era muito grande, a sala com mesa para talvez uns DEZ lugares e ainda havia um Piano, uma grande estante para livros, um corredor do lado direito onde ficavam os quartos das filhas e dois banheiros. Do lado esquerdo, havia um corredor onde ficava o quarto do casal e, acho, deveria ser uma Suíte pois não tive oportunidade de entrar ali, porque achei que não ficaria bem mostrar-me curioso demais.
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Como chegamos quase às SEIS HORAS da tarde, fui encaminhado pelo meu amigo, Vilmar para acomodar-me no quarto onde dormiam os irmãos.
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Interessante que todos os irmãos tinham nomes terminados em "MAR". Assim, tinha o Vilmar, o Valdemar, o Luizmar, Ademar e Altemar.
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Em seguida fomos até a casa principal, sendo recebido com muita alegria pelo casal e pelas irmãs de Vilmar.
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O jantar foi uma delícia: Serviram inicialmente uma sopa de legumes com carnes e depois um prato de massas.
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Fiquei admirado com a Recepção. Não imaginava que na casa de um Fazendeiro, houvesse tanto "finesse" para suas refeições. Fiquei envergonhado pois, logo após tomar a sopa, coloquei no mesmo prato a massa tão saborosa que haviam preparado.
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Sr. João perguntou-me: Você não quer trocar seu prato para comer a massa ?.
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Envergonhado, percebendo a gafe cometida, respondi:  " Ah, Sr. João é que o caldinho da sopa estava tão gostoso que achei melhor comer a massa no mesmo prato... !"
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No dia seguinte, o "desjejum", ou o "famoso café da manhã", foi fartamente FARTO: havia bolos, compotas, queijos de várias espécies, pães caseiros, biscoitos, sucos, café, leite e muitas frutas. Ufa !. Pensei: " como é possível comer tantas coisas e ficar tão esbelto ?. Não havia ninguém naquela casa que estivesse "fora de forma", principalmente as lindas TRÊS filhas do casal. Claro, precisei tomar muito cuidado para não perceberem que eu observava como eram bonitas, pois, primeira vez na casa dos pais do meu amigo Vilmar, não ficaria nada bem que alguém fizesse alguma observação não muito positiva sobre meu comportamento. Mas, ao mesmo tempo, elas ficavam olhando e fazendo comentários entre elas, o que eu imaginava que fosse de alguma admiração e interesse. 
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O almoço foi uma comida típica mineira, frango ao molho com quiabo, arroz, feijão, farofas, angu (polenta mole) e sobremesas gerais com queijo, goiabada e muitos doces ou compotas. 
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Logo após o almoço, os SEIS MOSQUETEIROS (Eu e os CINCO irmãos) foram passear pelas ruas de Uberlândia passando pelas escolas, clubes sociais e os locais onde os jovens mais frequentavam durante as tardes para “jogar conversa fora” e manter os bons relacionamentos de amizades.
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Como era uma Sexta-Feira, à noite haveria um bailinho no Clube onde a família também era sócia. Assim, todos, exceto as filhas do casal foram ao Clube e conheci um número ainda maior de amigos e amigas. Aquelas lindas mocinhas, dançavam muito bem, mas não conheciam ainda dançar os ritmos mais recentes como Twist e Hully Gully o que foi um fato muito importante para que as amizades aumentassem ainda mais. Um desconhecido na cidade, desde que bem acompanhado de bons amigos, sempre traz boas novidades e é bem recebido, o que aconteceu e deixou-me cada vez mais à vontade naquela linda cidade.
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Dia seguinte, Sábado, a rotina daquela linda mesa do café. Pensei: “como é possível resistir a tantas guloseimas ?”.
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À tarde, ainda reunidos no Clube, se não houver engano, de nome Tênis Clube, onde havia uma linda piscina brincamos muito. Havia também um Trampolim razoavelmente alto onde poucos tinham experiência e coragem de lá do alto “mergulharem” naquelas deliciosas águas. Fui desafiado a demonstrar “coragem” e, já acostumado a essa atividade em minha cidade, sem lhes contar, subi a escadaria que levava até aquele trampolim e fazendo um pouco de “medo”, pulei e mergulhei tranquilamente, o que favoreceu ainda mais as amizades com aquelas pessoas que já conhecia e outras novas que vieram cumprimentar.
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Assim, a cada instante uma novidade muito agradável acontecia e Vilmar e seus irmãos foram a todo instante muito atenciosos, além de seus pais e das suas belas irmãs.
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Chegou o último dia de minha estadia, o que foi comemorado com um churrasco completo onde muitos convidados compareceram e a festa acabou se estendendo até o horário de dormir, talvez umas DEZ horas  da noite. Festa regada a muita música, cantores embalados pelas caipirinhas e cervejas e muita comida, alegria, amizade e bem querer entre todos.
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Confesso minha tristeza que aproximava o momento de voltar para aquela Estação de Trem onde pela primeira vez pisei em solo mineiro. Mas, logo pela manhã, cumprindo o estabelecido, fui acompanhado pela família toda e um grande número de amigos que conheci naqueles dias. Triste partir, mas a alegria de lá ter estado foi assunto durante muito tempo tornando-se inesquecível.
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O Chefe da Estação, todo uniformizado e com aquele tradicional Quepe da Profissão, tocou o apito avisando aos passageiros para que tomassem seus lugares pois o trem já estava no horário de partir.
Sr. João foi o primeiro a abraçar-me, convidando-me para retornar muitas vezes e agradeceu a amizade e respeito que mantivemos.
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Em seguida Dona Maria abraçou-me emocionada, reforçando o mesmo convite do marido. Depois as três filhas, que até então havíamos nos relacionado de forma muito respeitosa, vieram abraçar-me em lágrimas e até recebi beijos no rosto. Ah, que lindas garotas .
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Assim também os irmãos e vários amigos. Nada poderia haver de melhor.
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 O TREM iniciou o retorno a Ribeirão Preto. Fiquei sim muito emocionado, sorrindo e derramando lágrimas de alegria, apreciando cada pedacinho da estrada, das matas, das flores, das montanhas, das Estações, dos acenos dos colonos trabalhando nos campos, dos ambulantes vendendo os variados produtos, do pessoal passageiro conversando sobre tantas coisas, da ansiedade sobre a chegada, sobre os deliciosos  momentos, cada minuto, que tive a grande oportunidade de desfrutar com pessoas tão gentis e, finalmente, do sentimento tão forte que invadiu meu coração pois aprendi muitas lições que fizeram com que minha vida se tornasse cada dia ainda mais desejada de viver bem, sem medos, confiante e seguro de que vale muito procurar conhecer aquilo que o coração às vezes nos deixa inseguros. Viajar de Trem, não era  meu habitual e justamente por ter passado por essa linda experiência carrego sempre as melhores lembranças de tudo de tão bom que aconteceu.
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“ O TREM DE NOSSAS VIDAS, representa um CONVITE para uma viagem, por onde talvez ainda não tenhamos passado, talvez sim imaginado, talvez sim desejado, talvez ... talvez... talvez,... mas que a todo instante somos  estimulados a TOMAR UMA DECISÃO, pois eis que as constantes indagações e inseguranças, os medos naturais que por vezes nos atormentam e não conseguimos deles nos libertar imaginando os seus resultados: SEREI FELIZ ou TEREI ARREPENDIMENTOS ?. Deixemos, sem medos,  para que tudo siga seu caminho suavemente, confiante, com vontade de encontrar-se e o Chefe da Estação com seu lindo uniforme, todo bem passado e engomado irá apitar com um largo sorriso quando de sua chegada, anunciando: Que alegria que você chegou, tão Radiante, tão Feliz e com o Coração em Paz !”.
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UBERLÂNDIA !.
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Os caminhos que conheci até aquela cidade, mostraram-me a Grandeza dos sentimentos das pessoas, a Sinceridade, a Amizade e o Amor. 
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Tudo isso é simbólico, "metafórico",  pois precisamos acreditar que nossa vida é como uma LINDA VIAGEM DE TREM: -  Segura, Tranquila, de muita Paz e muito  Amor . Para tanto, que se superem as dúvidas, os medos e sejam aceitas as oportunidades da entrega à busca das verdades que se encerram para se alcançar a FELICIDADE tão desejada.
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Saudades, gratidão !

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Raul Ramos Neves de Abreu

27 / 02 / 2020

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