terça-feira, 21 de junho de 2011

O AMOR É AZUL





Levantei hoje com uma sensação interessante e muito diferente de todos os dias, pois, parecia que iria à escola onde conheci muitas pessoas com quem fiz boas amizades e, em especial, com aquela moça linda que certa vez esqueceu seu par de óculos Ray-ban no balcão da lanchonete. Seu nome era Silvia e... ela era a garota mais linda que eu já havia visto.

Moça clara de cabelos longos, olhos angelicalmente azuis, pele bronzeada, meiga, sorriso farto, faces rosadas, andar sensual mas tímido, inteligente e uma das melhores alunas da classe.

Fazíamos o colegial, modalidade Clássico, onde as matérias principais eram idiomas. Silvia conhecia muito bem o idioma Inglês e eu o Francês.

Conheci-a pouco antes de iniciarmos naquela escola: ela havia deixado seu par de óculos Ray-ban no balcão de uma lanchonete quando tomava um refrigerante com suas amigas e comia algum salgadinho. Eu a observava com cuidado e muita admiração... afinal,... uma beleza daquela não era de ficar sem ser notada por qualquer pessoa. Quando iam saindo da lanchonete, peguei aqueles óculos e corri ao encontro daquela moça:

- Olá,... Você esqueceu seus óculos no balcão...
- Puxa ! Como sou esquecida... Muito obrigada... !
- Ah,... por nada. Foi um prazer..
- Meu nome é Silvia. E você ?
- Pedro. Mas os amigos me chamam de Doca !
- Doca ?
- Sim,... é quando eu era pequenino, chamavam-me de Pedroca. Agora sou o Doca !
- Ah... ! Então, Doca... Se quiser poder chamar-me de Sil, que é como meus amigos me tratam !
- Sil...
- Sim ?
- Bem,... é que... Bem,... é que...
- O quê ?
- Nada... nada...
- Ah,... não fique sem jeito,... fale que estou curiosa...
- Silvia,...quero dizer... Sil,... você é tão linda...
- Ah,... Doca...
- Desculpe-me,... mas será que vou vê-la outra vez ?
- Sim, claro,... acho que sim ! Venho sempre aqui... Amanhã,... que tal ?
- Tudo bem ! Amanhã estarei aqui novamente !

Silvia foi com suas colegas e eu fiquei ali na calçada observando até que virassem a esquina daquela rua. Meu coração disparou de emoção, de desejo, de ansiedade,... sei lá de quantas coisas ele disparou... mas sei que senti naquele momento alguma coisa que nunca houvera sentido antes pois aquela linda garota, de lindos olhos azuis, com aquela roupa tão deslumbrante, em tons azuis,... tudo azul em degradée,... Ah,... pensei: " meu coração é azul ! Meu coração é azul ! Meu coração é azul !".

Naqueles dias em todos os lugares onde os jovens iam dançar, o maior sucesso era exatamente aquela canção: " L'Amour est bleu "!  E eu adorava cantar em francês e, a partir daquele instante passei também a amar a canção que dizia " O AMOR É AZUL " tudo por causa de Silvia aquela garota de olhos azuis e do vestido azul !

Maio era o mês de seu aniversário, acho que dia 15. Naquela tarde a professora anunciou à classe que iríamos festejar o aniversário de Silvia, com músicas e poemas. Fui designado para homenagear a aniversariante com algum poema.

Enrubreci pois soube minutos antes que iria ter tal honrosa porém tão difícil incumbência. Afinal, o que dizer à moça mais linda que eu já havia visto e por quem guardava, com todo cuidado e segredo, muita paixão e muito amor e por quem todas as minhas células tremiam quando ela por mim passava exalando aquele delicioso e natural perfume de seu estonteante Ser ?

Silvia,... !!! Um nome que jamais poderei esquecer e uma princesa por quem sempre sonhei !

- Dona Florianete, o que eu devo dizer lá na frente ? Não sei o que dizer, estou com medo e com vergonha...
- Ah,.. garoto ! Você é o aluno mais aplicado da minha classe e com esse seu jeitinho tão charmoso, você certamente vai arrasar e deixar todas as meninas apaixonadas. Vai lá e mostre como sempre fez no teatro... ! Você é o meu melhor aluno e confio muito em você !

Eu não aguentava de tanto medo de não agradar Silvia e as demais alunas. Havia apenas mais uns dois ou tres colegas masculinos na classe e eles torciam para que eu falhasse. Então,... não tive outra alternativa senão recorrer a alguma coisa que eu conhecesse. Eu gostava de tocar violão e cantar canções internacionais, em inglês e francês. Alguma coisa em italiano que era o que mais se tocava na época.

Lembrei-me de Paul Mauriat, pois seu nome era muito conhecido e, principalmente, suas canções faziam com que todas as pessoas calassem hipnotizadas e apaixonadas sonhando em estar nos braços, abraços e beijos com a pessoa amada.

Silvia era quem eu gostaria de abraçar, beijar e amar !

De repente,... lá na frente...

Tomei emprestado o violão de Lucinha, por quem eu também sentia muita atração... e comecei a dedilhar as cordas silenciosamente olhando para as pessoas que ansiosamente e curiosamente aguardavam o que poderia acontecer... Eu tremia,.. tremia,.. mas esbocei um sorriso e fui acalmando ao som das cordas daquele  "Di Giorgio" - o "pinho" (violão) de Lucinha que ecoava tão delicadamente...

Iniciei os acórdes daquela canção e cantei, em francês, aquele lindo poema de amor.  A minha voz chorosa caminhou vagarosamente com todo amor à procura do doce e inesquecível sorriso de Silvia:

L' Amour est bleu !

" Doce, doce, o amor é doce !
. Doce é minha vida em seus braços,...
. Doce é minha vida perto de você,...

. Azul, azul, o amor é azul !
. Que embala meu coração tão apaixonado,...
. Como o céu que brinca em seus olhos,...
. Como a água que corre para o mar,...
. Assim corre meu coração atrás de seu amor !

. Cinza, cinza, o amor é cinza !
. Cai a chuva quando você não está !
. Chora o vento quando você se vai,...
. Chora meu coração quando você não está mais !

. Azul, azul, ... o amor é azul !
. O céu é azul quando você volta,...
. Azul, azul, o amor é azul,...
. Meu amor é azul quando estou com você ! ".


. Silvia,... joyeux anniversaire !


" Bleu, bleu,... l'amour est bleu,...bleu est ma vie quand je suis à toi ! "
( meu amor é azul quando estou com você ! )
...

Quando terminei de cantar, emocionado com algumas lágrimas ameaçando e um sorriso tímido e  esperançoso, fez-se um interminável silêncio de quase alguns segundos que parecia um "barulho ensurdecedor", seguido de aplausos e gritos de "beija,... beija,...beija..." deixando-me ainda mais "embaraçado" pois eu não resistia à vontade de realmente beijar aquela moça.

Ela levantou-se de sua carteira e veio até a mim com os braços abertos... Não resisti àquilo e abracei-a com todo ardor, cumprimentando-a pelo aniversário... Arrisquei um beijo em seu rosto mas,... para minha surpresa e de todos os presentes, beijâmo-nos com os lábios colados de forma tão natural e espontânea provocando a manifestação de alegria de nossos colegas e da minha querida professora que havia "preparado" toda aquela situação.

- Silvia,...
- Doca,...
- Silvia,... eu te amo desde aquele dia....
- Doca,... Doca,... eu te amo também !

Dizem que até hoje, naquela escola, existe um quadro com as inscrições " Sil e Doca - L'Amour est bleu ! e,... pelos corredores ainda ecoam os sussuros de amor !

Já faz muito tempo... mas tudo parece ser agora !

Vou caminhar um pouco por aí,... talvez naquela praça, naquela rua onde ficava aquela lanchonete... Ah,... O amor é azul e eu estou apaixonado !

-    o    -
Raul de Abreu
21 / 06 / 2011

2 comentários:

  1. Ao ler trouxe-me uma intensa sensação de nostalgia. Lembrei-me das emoções dos tempos da adolescência, das fantasias, dos medos,dos conflitos,da ansiedade gostosa do primeiro encontro...É muito fácil a gente se permitir sentir tais emoções ao ler um conto... rsrs
    Obrigada Raul por este Blog. Parabéns. Rosane abç

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  2. Rosane: L'amour est bleu ! É verdade que nosso tempinho de adolescentes nos traz lembranças maravilhosas das brincadeiras, da ingenuidade, da pureza d'alma, da sinceridade, os sonhos, os encontros, as realizações... Hoje,... somos o que plantamos: se plantamos amor e alegria então é tudo isso que podemos desfrutar com muito prazer. Tenho saudade de todos aqueles bons momentos porque eles me permitiram conhecer pessoas boas e com elas conviver tão alegre e tranquilamente... E andam comigo sempre, ou por vezes ao meu lado ou então sempre em meu pensamento de alegria e em meu coração ! Agradeço sua visita. Abraço, Raul

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