segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

UM LUGAR AO SOL !


Quase todas as tardes, os 5 amigos encontravam-se para costumeiras aventuras pela mata.

Todos muito jovens, com idades variando entre 10 e 12 anos, lá iam eles “mata adentro”, descalços, com toda felicidade e ingenuidade estampadas em seus rostos, levando estilingues, varas de pescar, figurinhas de jogadores dos times de futebol, canivetes e facas tipo “peixeira”,... buscando mais um dia de grandes aventuras !

Estava fazendo um dia maravilhoso. Devia ser por volta das 2 horas da tarde. Era meado de abril, inicio do Outono, com o Sol todo imponente aquecendo o vento mais fresco que anunciava mudança de estação.

No meio da mata, curiosos, ficavam atentos observando pássaros cantando, as borboletas coloridas voando, pequenos animais, as resinas dos troncos das árvores em formatos diversos, os mistérios “no ar” que os faziam assustar, as frutas silvestres, as cores e os aromas das plantas,... Tudo ali era um encanto que só a eles (pensavam) pertencia !.

Havia uma nascente de água cristalina e gelada que deslizava tranqüilamente pela relva e encontrava-se com outras mais adiante até formarem uma pequena corredeira que ia se avolumando e seguindo adiante com mais vigor, preenchendo uma cavidade natural de uns 30 metros de comprimento, e uns 10 metros de largura e sua maior profundidade aproximava-se de uns 2 metros.

Ali, era a Piscina Secreta dos amigos Doca, Alex, Manuel, Peti e Quinho.

A região era argilosa, de areia branquinha e aquela piscina, ao longe, parecia ter água azul, cristalina, onde os peixinhos nadavam felizes e despreocupadamente.

Peti era o mais velho e líder do grupo. Virou-se para seus amigos dizendo:

- Hoje vamos “entancar” a nossa Piscina e fazer um “cipó do Tarzan” ! .
- Doca e Mané, vocês vão buscar os troncos e gravetos. Alê e Quinho, peguem torrões de grama, pedras e bastante cipó.

Aquele poço, a que chamavam de Piscina Secreta, era um pouco elevado e tinha um estreitamento em sua ponta, por onde, por uma pequena queda, a água ia escorrendo e formando o riacho que kilometros adiante já se tornava um grande rio.

Rapidamente entancaram o poço (um dique) e esperaram quase 1 hora até a água preencher todo aquele espaço em volta do poço, fazendo até a prainha de areia ficar submersa.

Tiraram suas roupas, ficaram pelados e prepararam-se para nadar naquela tão desejada piscina que só eles conheciam até aquele dia...

- Vamos lá ! Quem não pular do cipó vai ser a mulher do padre !

Eles tinham levado uma corda de uns 10 metros de comprimento e amarraram num galho bem alto da árvore que ficava bem encostada ao Poço. Os garotos tomavam distancia, segurando a corda e lançavam-se em velocidade em direção ao centro do poço gritando alto de tanta alegria.

- Eu sou o Tarzan,... eu sou o Tarzan, ... !
- Eu sou o Tarzan,... eu sou o Tarzan, ... !

De repente, apareceu um outro garoto que não fazia parte da turma. Era um menino raquítico, muito humilde, a quem chamavam de Pião.

Não se sabe porque esse apelido – “Pião”. Mas ninguém sabia o seu nome verdadeiro. Peti virou-se para Pião, estranhando sua presença:

- O que você está fazendo aqui, Pião ? Você não sabe que esse lugar aqui é a nossa Piscina Secreta e que ninguém pode entrar aqui, seu moleque ?
- Ah, Peti, é que eu não sabia disso e vim aqui me esconder...
- Esconder? Você está brincando de esconder com alguém ?
- Não ! É que ninguém gosta de mim, não tenho amigos... e meu pai está lá em casa porque foi mandado embora do emprego dele...
- Seu pai foi mandado embora ?
- Sim,... falaram que ele não presta...
- Mas, por que isso ?
- Ele não sabe ler...
- Só por causa disso ?
- Não sei,... foi o que ele me disse. Está todo mundo lá em casa chorando... minha mãe está triste cuidando do neném... nem tem comida hoje pra comer...
- Pião, ... puxa vida !

Peti mandou todo mundo sair da água pra consolar o Pião.

- Doca, você trouxe os sanduíches no seu “emborná” ?
- Sim, Peti. Tem pão com queijo, banana e balas...
- Então, vamos dar tudo para o Pião... Coitado, a família dele agora está passando fome...
- Ah,... o Alê e o Quinho trouxeram mais coisas também...
- Então, todo mundo vai dar os lanches pro Pião e ele agora vai ser o nosso amigo..

Pião, com lágrimas nos olhos começou a sorrir e tremer de tanta emoção. Não sabia o que dizer aos amigos, pois seu desespero era tamanho naquele momento que saiu de casa, que até pensou que iria morrer...

- Puxa, Peti, é verdade isso que você está me falando ? Eu prometo que nunca vou contar nada pra ninguém sobre esse lugar...
- Pião, ... tire a roupa aí e vem nadar um pouco com a turma...

Pião não pensou nem um segundo... olhou para aqueles garotos que o observavam, todos com sentimento pelo seu problema, e pulou logo naquela água cristalina, fresquinha que lavou todos os seus momentâneos sofrimentos.

Aquela tarde proporcionou muitas mudanças nas vidas dos amigos. Nunca tinham imaginado que em busca de aventuras, de diversão, de conhecimento de coisas novas pudessem vivenciar uma “viagem para dentro de si mesmos” e descobrirem as verdades do mundo à sua volta.

Doca era filho de um industrial. Chegando a sua casa, contou o que havia acontecido naquela tarde e convenceu seu pai a empregar o pai de Pião.

Peti, da mesma forma, contou a seus pais o acontecido. Sua mãe era professora e passou a alfabetizar o pai e a mãe de Pião.

Os pais dos 5 amigos reuniram-se e foram visitar a casa daquele menino e, conhecendo aquela família, simples, humilde e honesta, ajudaram em tudo para que tivessem boas oportunidades e fossem tratados com dignidade e respeito pelas pessoas da cidade.

João era o nome verdadeiro de Pião. Seu pai, o Senhor José, foi alfabetizado e continuou trabalhando na fábrica do pai de Doca, sendo promovido em pouco tempo e muito respeitado pelos demais empregados da fábrica.

Dona Mercedes, mãe do Pião, fazia doces como ninguém. Não havia um aniversário na cidade que não encomendassem o bolo e doces para Dona Mercedes e ela, com marido e filhos, sempre era convidada.

O Tempo passou...

Alê, o Alexandre, formou-se médico. Casou-se, tem três filhos e é muito feliz. Sua esposa também é médica.

Quinho, o Marcos, mudou-se para a Capital e é Executivo de uma grande empresa multinacional. Ele viaja todos os anos para o exterior, fala vários idiomas, é casado e tem 2 filhas lindas. Sua mulher é Psicóloga.

Doca, o Dorival, hoje é quem administra as empresas do pai. Também casado, pai de um lindo casal de filhos. Sua esposa é professora.

Mané, o Manuel, era filho de um fazendeiro e continua os negócios do pai na cidade e também em uma cidade do Mato Grosso do Sul. Casado, com 3 filhos. Esposa trabalha com ele.

Tenho orgulho em dizer que João, o Pião, hoje é um grande Advogado e meu grande amigo. Ele é casado e sua esposa é Assistente Social. Tem 2 filhos. Além de suas atividades como Advogado, renomado e respeitado, ele é membro ativo de uma Instituição de Assistência a menores e também aos idosos.

Eu era muito pequeno, porisso chamavam-me Peti - (Petit em francês).

Meu pai sempre nos dizia:

- " Filhos, sejam sempre honestos e humildes. Não vivemos sozinhos neste mundo e para sermos felizes, todos dependemos uns dos outros. Sejam solidários e que suas mãos estejam sempre estendidas para aqueles que necessitam de ajuda, de um pouco de carinho, pois todas as pessoas merecem um lugar ao sol !"

... Os 5 amigos, a partir daquela tarde, passaram a ser conhecidos como “OS AMIGOS DO PIÃO” ... e o Pião continua sendo um Grande Amigo !...



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