domingo, 19 de janeiro de 2014

O CATECISMO


José Augusto, filho único de Seu Rodrigues e Dona Zazá, era o aluno mais aplicado e mais inteligente da classe !


Recebia de seus pais uma educação invejável: estava sempre bem arrumadinho, limpinho, cheirosinho, falava mansinho, cabelinho bem cortadinho, e uns óculos fundo-de-garrafa pra ninguém botar defeito (era a única coisa errada no garoto) !

Era o preferido de todos os professores, pois era muito estudioso, caprichoso, educadíssimo e levava sempre presentinhos a todos !

Ia completar 12 anos e fazia o cursinho de catecismo pra fazer sua primeira comunhão. Seus pais já anunciavam uma grande festa para esse grande dia.

Os pais eram fazendeiros muito prósperos, de uma família muito tradicional e centenariamente proprietária de fazendas de gado e café.

Diziam as más línguas que eles viviam fazendo festas suspeitas ! Vai saber...

Guto, como era carinhosamente chamado, não tinha muitos amigos, pois a maioria dos garotos não vinha de famílias abastadas e não tinha os recursos que ele fartamente desfrutava.

Ele chegava de carro todos os dias na escola. O Choffeur, Seu Benedito, trabalhava para a família desde que nasceu visto que seu pai também já era empregado dos avós de Guto.

Seu Benedito vinha com uniforme, chapéu de choffeur, botas de pelica,... tudo que um bom choffeur tinha direito em uma família de ricos !

Quando chegava à escola, estacionava o carro justamente onde as meninas estavam aguardando ansiosas pra ver Guto. Abria a porta para o garoto, estendia-lhe a mão para ajudá-lo a descer e estava sempre, nessas horas, com o boné embaixo do braço em posição de respeito.

Uma beleza ! Ninguém tinha aquela mordomia !

As garotas, com suas saias xadrez e boina combinando, meias ¾, ficavam olhando Guto descer do carro, uniformizado com aquele terninho impecavelmente alinhado, bem passado, engomado e perfumado... Ahhhhhhhhhhhhh,... que garoto lindo e futuro bom partido !

Embora não disputasse da simpatia dos garotos que morriam de inveja, ele era adorado pelas meninas. Mas, Guto, devido à sua rígida educação, era um garoto dócil e muito tímido. Morria de medo das meninas e gostaria muito de ter os garotos como seus amigos pra ir jogar bola com eles, brincar de qualquer coisa como qualquer garoto normal.

Não sabia o que fazer pra conquistar a amizade deles. Só desfrutava da amizade de outros poucos garotos de família muito abastadas, de narizes muito empinados, diferentes dele em comportamento, assanhados com as garotas as quais, pelo poder, assediavam e eram bem sucedidos.

Um dia estava sozinho em sua casa, a mansão que ficava numa quadra inteira no centro da cidade, perto da igreja. Seus pais viajaram e deixaram a governanta incumbida de tomar conta de Guto e, Benedito, para levá-lo, naquela semana, aos rotineiros lugares: escola, igreja, casa dos tios e retorno para casa !

Guto entrou no quarto de seus pais ! ...

O quarto era imenso. Tinha uma televisão colorida embutida, enorme, em móvel de jacarandá importada diretamente para eles.

Olhou o imenso armário no closet... Tudo arrumadinho e brilhando impecavelmente. Abriu a porta do armário de roupas e viu estranha mala... Não resistiu e abriu.

Dentro da mala havia uma coleção enorme de revistas de um autor chamado: CARLOS ZÉFIRO - o mestre dos quadrinhos eróticos do Brasil, conhecido por quase todo garoto de “mão peluda” entre as décadas de 50 a 70.

Carlos Zéfiro publicava uma revista de quadrinhos eróticos com deliciosas aventuras pornográficas em traços simples e sem cor, mas que eram o terror das mães conservadoras, com seu conteúdo que trazia sexo sacana e putarias de todo tipo (a alegria da molecada).

Os quadrinhos eróticos de Carlos Zéfiro foram amados e odiados. Arte e Pornografia. Hoje, sua obra é aclamada por diversos artistas e considerada “Cult”.

Não somente essas revistas, mas Seu Rodrigues, pai de Guto, tinha uma coleção pornográfica enorme de revistas importadas, baralhos, objetos e diversos artigos interessantíssimos para “festas de casais” !

Ele não entendeu nada daquilo, apesar de que, claro, viu logo os desenhos das revistas de Zéfiro, coisa que nunca tinha imaginado existir e ficou boquiaberto vendo aqueles traços de mulheres nuas com seios fartos e sexo com uma vasta cobertura de pelos...

- Pelos? Não sabia que mulheres tinham pelos! Minha mãe acho que não tem !

Pegou logo um exemplar da revista – A CARONA, que na capa estampava a foto de uma mulher à beira da estrada e um caminhão – FNM estacionando (que todos chamavam de FENEMÊ).

Na capa da revista, no rodapé, alertava: “EXPRESSAMENTE PROIBIDO PARA MENORES DE 18 ANOS”.

No cabeçalho estava registrado: “ Aquela garota parada à beira da estrada me fez parar o caminhão. Era tão gostosinha que bem merecia o que queria: UMA CARONA ! “

Ele ficou assustado enquanto abria a revista. Havia gravuras e textos eróticos...

Foi correndo para o banheiro, fechou a porta, colocou aquele imenso par de óculos e começou a ver e rever gravura por gravura e a ler texto por texto. Não entendeu quando percebeu que estava ficando excitado; aquilo nunca havia acontecido, pois, afinal, nunca tinha visto e nem ouvido em casa comentários sobre sexo já que seus pais eram sempre de uma lisura irretocável !

Dia seguinte, após a aula da escola quando ia para a aula de catecismo na Igreja, ele levou a Revistinha de Zéfiro dentro do livro de catecismo.

Quando chegou à Igreja, chamou o José Carlos, cujo apelido era Tico-tico, um garoto que até que gostava um pouco de Guto.

- Olha só o que achei em casa, Tico-tico!
- Nossaaaaaaa ! Você tem um Catecismo ?
- Tenho sim,... mas estou falando dessa revistinha que achei...
- Sim, essa mesma. Essa revistinha chama-se Catecismo...
- Catecismo? Mas aqui não tem nada de aula de religião...
- Mas é Catecismo. Todo moleque da cidade faz qualquer coisa pra ter um Catecismo desses...
- Ah, é? Eu não sabia. Isso aqui é Catecismo? E esse livro de aula de Catecismo?
- Esse aí é Catecismo da Igreja... Mas essa revistinha é um Catecismo que a molecada leva atrás da moita pra “bater umas” em grupo...
- Bater umas em grupo? O que é isso?
- Você nunca bateu uma?
- Bateu o quê ? Não sei....
- Uma punheta, vendo catecismo!
- O que é isso?
- Olha, vamos fazer o seguinte, Guto: depois da aula de Catecismo, a gente vai lá na casa do Zé Espingarda e você vai ficar sabendo. Mas isso é um segredo, você não pode contar pra ninguém, tá bom ?
- Tá bem ... !

Tico-tico já avisou logo a molecada que Guto tinha um Catecismo e que iria levar na casa do Zé Espingarda a tarde. A molecada ficou toda alvoroçada...

- Seu Benedito, o Sr. poderia me levar na casa do Zé Espingarda hoje depois do almoço?
- Sim Sr., Seu Guto. Mas o que o Sr. vai fazer lá?

Guto exitou e lembrou-se da recomendação do Tico-tico pra não contar pra ninguém. Então resolveu inventar uma desculpa...

- É que hoje temos que estudar o Catecismo...
- Ah! Sim Senhor! Vou levar o Senhor sim!

Ele almoçou com uma ansiedade daquelas, pois queria descobir o que era “bater uma” !

Quando deram 2 horas da tarde, ele já estava preocupado e foi descendo as escadas do andar superior da casa, onde ficava seu quarto, para encontrar Seu Benedito.

- Ah, Senhor Guto... já estou pronto para levar o Senhor!

Assim foram até a casa do Zé Espingarda. Quando lá chegaram, Seu Benedito esboçou um largo sorriso como nunca havia feito antes, pois viu logo a garotada toda entusiasmada esperando Guto ! ... Que mudança !

- Hei Guto, estamos esperando você pra estudarmos o Catecismo! Que bom que você já chegou... !

Foram até o quintal da casa onde havia uma casinha de depósito de materiais do pai de Zé Espingarda. Guto estava muito surpreso, pois até aquele dia nunca tinha recebido tanta atenção e carinho daqueles moleques. Ficou todo empinadinho de contentamento!

- E aí, Guto? Você trouxe o Catecismo?
- Não, eu deixei lá em casa. Eu trouxe só essa revistinha aqui...
- Isso mesmo ! É esse Catecismo aí que estamos querendo ver ! Vamos começar a leitura já !

A molecada sentou-se no chão. Todo mundo tirou o calção e imediatamente nomearam Tico-tico pra fazer a leitura, exibindo os quadrinhos para todos...

- Mosqueteiros: De arma em prumo... Vai começar a festa: todo mundo com o pinto na mão “batendo uma bem batida” pro nosso amigo Guto aprender o que é um Catecismo! E hoje vamos bater uma com o pensamento na Martinha, a gata mais gostosa da cidade !

Guto ficou assustado com tanto moleque ali pelado. Não sabia o que fazer e tirou a roupa também. Afinal, o que ele mais queria na vida era ter amigos e deixar aquela vida tediosa e monótona de “filhinho de papai” !

Botou o “pirulito” pra fora, observou bem os novos amigos e começou a copiá-los numa “batida celestial” ! ... E pensou na Martinha que também era seu maior desejo !

- Uau ! Que delicia... ! Isso aqui que é “bater uma” ? Eu tenho lá em casa umas 50 revistinhas dessa... ! E tem outras com fotografias coloridas que eu descobri no quarto do meu pai !

- Guto, a partir de hoje você é o nosso maior amigo! ... Agora, todo dia você vem aqui que vamos Estudar o Catecismo e “bater umas” até o “prego virar alfinete” !

Guto voltou muitas vezes e seus amigos foram testemunhas do dia em que ele “virou homem” jorrando o seu primeiro orgasmo.

... “SANTO SENHOR CARLOS ZÉFIRO – O PROTETOR DA MOLECADA !”

Guto nos dias seguintes levou todas as revistas para os novos amigos conhecerem e, com isso, passou a ser considerado por todos como o melhor amigo a ponto de convidá-los sempre para freqüentarem sua casa e desfrutarem daquela linda piscina.

As garotas começaram também a freqüentar sua casa, para alegria de Seu Rodrigues – que sabia muito bem o que tinha acontecido.

Volta e meia Guto levava todos, inclusive as meninas, para o enorme Galpão onde ficavam os carros, para estudarem com muito afinco e aplicarem em aulas práticas os grandes ensinamentos do Catecismo... !

E foi assim que Guto, a partir daquele dia, chegava todo dia na escola com um sorriso largo estampado no rosto e era recebido aos abraços calorosos de toda molecada, deixando as meninas malucas por ele...

... Bem, não foi à toa que ele ficou sendo conhecido tempos depois ... e respeitado por todos,... como “O Rei do Galinheiro !”

Hoje, Guto é um homem formado, próspero empresário, bem casado e homem sério !

Mas, em sua vasta sala, naquele maravilhoso prédio de 20 andares da Capital, tem uma passagem secreta para uma grande estante onde ele guarda um GRANDE TESOURO – A coleção completa dos Catecismos que adquiriu durante toda sua vida, com as assinaturas de seus inesquecíveis amigos e, ainda, um quadro que lhe ofertaram:

... “Ao amigo Guto, O CAMPEÃO DAS BATIDAS, a lembrança de seus amigos da infância !”

Desde que se mudou para a Capital, Guto faz um encontro todos os anos com seus amigos. Nessa data eles selecionam um Catecismo e lêem em voz alta, como no princípio, fazendo “alguma homenagem” àquelas garotas que foram suas fantasias enquanto crianças:

... Aninha, Rosinha, Soninha, Clarinha, Mariinha, Cicinha, Cristininha, Martinha....

Esse ano, o Catecismo selecionado foi “ FRUTOS PROIBIDOS ” que será lido pela Martinha – que sempre foi e continua sendo a garota mais desejada da cidade.

Várias amiguinhas da época também estarão presentes, além dos marmanjos da turma do “bater uma em grupo” da casa do Zé Espingarda.

A Martinha mandou avisar que nesse encontro, em homenagem aos 20 anos de nossos encontros e às tantas “batidas” que foram feitas com o pensamento nela, ela vai satisfazer os desejos da “molecada” lendo NUAZINHA fantasiada de "MAMÃE NOELA" todo o Catecismo “  FRUTOS PROIBIDOS  ” !.

Martinha fantasiada de Mamãe Noela

Bem,... pedindo licença aos leitores, eu já vou me despedindo porque não sou de ferro e fiquei a vida toda pensando na Martinha e sonhando com uma oportunidade dessas. E essa, ... eu não vou perder por nada desse mundo ! ... (depois eu conto o restante).

Ah, esqueci de dizer que o Encontro vai ser hoje, ... daqui a pouco ! Putz ! ... e eu sou o Tico-tico !

TICO-TICO




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