sábado, 16 de janeiro de 2010

LES MOULINS DE MON COEUR





Toda manhã eu ouvia uma música em uma emissora da capital que fazia com que ficasse imobilizado ouvindo aquela linda canção e sonhando com alguém que nunca tinha visto antes e nem imaginava como deveria ser. Imaginava-a como uma miragem, sem conseguir visualizá-la por completo, mas sentia que a amava muito.

Parecia algo de outro mundo, de outra vida, como se já tivesse vivenciado aqueles momentos em algum tempo passado e talvez até futuramente.

Comentei com Stephan, um colega que trabalhava comigo. Ele era Yugoslavo, filho de uma Croata e um Oficial Alemão que havia sido preso em campo de concentração.

Stephan ficou me olhando curioso, quieto, irriquieto ... e não resistiu em dizer:

- É déjà-vu ! É déjá-vu !
- Déjà-vu ? O que é isso ?
- É uma palavra francesa que costuma se referir a um "sonho" que voce está vivenciando neste momento e tem a impressão de já ter passado por isso. Parece como a "lembrança" de algum momento que você já viveu em algum tempo...
- Mas,... é estranho ! Essa música me faz lembrar uma linda mulher que vem mansa, carinhosa e sorridente ao meu encontro... e dá a impressão que é o grande amor de minha vida ! Mas nunca a vi !
- É isso mesmo,... nasci em um Campo de Concentração na antiga Yugoslávia, hoje Croácia, ... As lembranças daqueles dias não me saem da cabeça...
- Ah, Stephan, me perdoe... não queria fazer nenhum mal a você. Não desejei que lembrasse isso...
- Não, não faz... Lembro da neve, das pessoas tristes, algumas alegres, lembro de coisas boas também... que meu pai foi libertado e viemos morar aqui no Brasil. Receberam-nos de braços abertos, com carinho, amor... ninguém nunca se preocupou de onde viemos e o que fomos mas sim receberam-nos com alegria, de braços abertos. Eu tenho um "dèjá-vu" todos os dias, lembrando coisas que deixei lá distante e nunca mais vou rever... A vida é bela, mesmo com alguns momentos... Sonhe com sua amada !

Fiquei olhando Stephan emocionado pois sua históira era muito triste e, mesmo assim, ele estava sempre sorrindo. Aumentei o som do rádio e ouvimos em silêncio aquela música...

Naquele dia, um sábado, fazíamos plantão no laboratório da Volkswagen. Tudo era silêncio, poucas pessoas tinham ido trabalhar, a tarde estava sombria, nublada, fria, garoenta,... "Bucólica" ! Um dia especial para sonhar em ter alguém para amar !

O vento soprava gelado e meu corpo todo sentia aquele friozinho gostoso que trazia uma sensação da proximidade daquela moça:

Juliette ! Decidi que seu nome seria Juliette !

Comecei a caminhar de volta para casa tomando aquela garoa que refrescava meu rosto e fazia cada vez mais sonhar com Juliette... Juliette ...Juliette !

Stephan tinha um carro conversível e caminhamos com a capota aberta sorrindo e aproveitando aquele momento tão maravilhoso !

Paramos perto de minha casa. Havia um ponto de ônibus bem em frente à escadaria que vinha da Praça central da cidade. Era toda florida, bem cuidada com aroma de flores do "Paraíso".

De repente aquela moça de meus sonhos começou a caminhar vagarosamente, vindo ao nosso encontro... Juliette !

- Juliette,... Juliette... !

Eu estava apenas sonhando acordado, mas tive a nítida impressão de que ela vinha ao meu encontro. Juliette,...!

Ainda hoje passo por aquela praça e sempre que começa a garoar eu sinto que ela aparece novamente para vir me abraçar ! Então,... começo a cantar ... " Les moulins de mon coeur ! "

 ... Je t´aime Juliette... !

-  0  -

Raul de Abreu
jan - 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário