segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

ROUBARAM O SNOOPY

Fico cada vez mais decepcionado quando temos que falar sobre a ÍNDOLE das pessoas; é muito difícil encontrar quem não queira ter “alguma vantagem” sobre a desvantagem alheia.

Há 7 meses atrás, em junho de 2007, fui a uma pet-shop e vi aquele cãozinho Fox Terrier, no meio de outros 5 de outra raça. Ao contrário dos outros que se amontoavam uns sobre os outros para aquecerem-se ele ficou me olhando e balançando o rabo.

Pensei: “Ah, ele gostou de mim. É exatamente o que eu estava querendo, vou levá-lo e fazer uma surpresa lá em casa !.”

Fazia mais de 40 anos que eu não tinha um cachorro em casa.

Minha mãe sempre conta histórias sobre o ultimo cachorro que ela teve, o SNOOPY, um Boxer muito calmo, brincalhão, carinhoso. Então, resolvi colocar o nome de SNOOPY no Fox (foto acima), pois desta forma minha mãe poderia se esquecer do outro que morreu há uns 8 anos atrás.

Levei ao veterinário e fiz sua carteirinha. Dei todas as vacinas durante esses meses e tomei todos os cuidados com ele para não contrair doenças e nem ter as indesejáveis visitas de pulgas e carrapatos.

SNOOPY desde o primeiro dia que chegou em casa mostrou-se avesso a rações. Experimentei vários tipos da ração dura e ele não aceitou. Como era muito novo, contrariamente a orientação da veterinária, passei a alimentá-lo com leite e papinha de cereais, legumes e carne moída.

Alegria total quando ele se alimentava!

Cresceu rápido, ficou muito bonito. Não cortei o rabo e nem mandei castrar, respondendo às pessoas que sempre me perguntaram sobre isso, pois não sou adepto a essas agressões aos animais ou às famosas “Bonsai” que para mim nada mais são que aberrações da natureza por atrofiamento das plantas e não arte milenar oriental. (ainda vou fazer bonsai dum japa... !)

Voltando ao principio, não entendo porque pessoas conseguem “surrupiar” o que não lhes pertence, quando seria tão simples adquirir as coisas como animais, plantas, etc.

Um dia, quando minha filha tinha uns 12 anos de idade, ela chegou da escola e disse que encontrou na rua uma correntinha de ouro com uma medalhinha. Ficou toda entusiasmada, contente porque achou, coisa que nunca havia acontecido.

- Fernanda, essa medalhinha não é sua. Alguma pessoa perdeu e está triste por causa disso. Você já imaginou se você tivesse perdido e alguém estivesse feliz por tê-la encontrado e passasse a usar, enquanto você estivesse aqui sofrendo? Você vai devolver. Volta na escola e diga que encontrou na calçada. Alguém poderá procurar. Se não procurar, de qualquer forma você cumpriu a sua obrigação.

Ela relutou em aceitar pois todo mundo que acha alguma coisa na rua, pega e esconde logo para que o dono não veja. Ela me disse que várias colegas já haviam achado coisas...

Insisti que ela não era todo mundo. Que ela devia dar exemplo e não esperar exemplo de ninguém. Ela deveria ser honesta e não esperar que as pessoas fossem, pois as pessoas corretas, honestas são dignas de serem vistas como exemplo. E, se ninguém se importasse com isso, pelo menos ela iria sempre estar de consciência tranqüila.

Fernanda levou a jóia na escola logo em seguida e voltou de lá feliz, realizada com uma experiência gratificante, por sentir-se "diferente do esperado", por sentir-se correta e solidária. Fui junto com ela. Nunca soubemos se foi entregue à verdadeira pessoa dona da correntinha. Fernanda hoje tem 32 anos e é uma Executiva, em área de Extrema Confiança, de uma das maiores empresas do Brasil. Eu sempre soube que ela seria assim!

Meses depois, meu filho estava trabalhando em uma loja no Shopping. Quando foi tomar um lanche, achou pouco mais de 200 Reais num corredor perto de uma lanchonete. Ficou radiante com aquilo! Chegou em casa e foi logo contando... Novamente, eu disse a mesma coisa que havia dito a Fernanda. Rodrigo reagiu dizendo que havia achado e que não havia roubado e que como ele iria devolver dinheiro se não sabia quem era o dono e, por outro lado, como é que ele poderia dizer que havia achado e que o verdadeiro dono viria buscar já que “pessoas honestas” são difíceis de encontrar nessa hora ?

Então eu disse a ele que montaríamos uma estratégia:

- Você vai até a lanchonete e diga ao dono que você achou uma certa quantia. Diga que havia Reais e Dólares e que o dono deverá ligar e informar a quantia exata que foi perdida. Assim, se ninguém ligar, vamos depois ver o que faremos com esse dinheiro que não é seu.

Rodrigo assim fez. Várias pessoas ligaram “chutando” valores, inclusive os dólares que na verdade não existiam porque foram a estratégia usada para se saber exatamente quem poderia ser o dono.

Poucos dias depois ligou um rapaz dizendo exatamente a quantia que havia perdido e o lugar onde poderia ter deixado cair. Assim, Rodrigo combinou para que ele fosse à loja buscar.

O Rapaz foi buscar e disse ao Rodrigo:

- Pô, nem acredito que ainda tenha gente boba assim nesse mundo !

Rodrigo ficou irritadíssimo com o que ouviu e me disse que nunca mais iria devolver nada de ninguém. Insisti com ele que talvez, com o tempo, aquele rapaz pensasse melhor e que passasse a ser honesto. Mas, de qualquer forma o importante era que ele havia cumprido sua obrigação !

Com o tempo, tanto Fernanda quanto Rodrigo firmaram suas personalidades muito fortes com base em princípios de moral, trabalho e honestidade. Eu me sinto muito realizado quando posso falar de meus filhos, pois eles são exemplo de comportamento. Eu gostaria muito de mudar o mundo fazendo com que todas as pessoas fossem fraternas, solidárias, honestas.

A exemplo de Fernanda, Rodrigo foi convidado para trabalhar em um Consulado Dinamarquês, devido ao conhecimento de vários idiomas, inclusive o dinamarquês, e em especial por tratar-se de uma atividade que requer pessoas de EXTREMA CONFIANÇA e honestidade ! Eu sempre soube que ele seria assim !

Considero-me realizado e feliz por ter tido uma esposa e filhos de moral elevada, educação, honestidade e todos os bons princípios de bons cidadãos.

Eles nunca levariam um cachorrinho pra casa com uma coleira no pescoço, com nome e telefone do dono a não ser para proteger o animalzinho, avisar o dono e devolver imediatamente !.

Acho que o maior tesouro que alguém pode conseguir na vida é o que chamamos de "BONS PRINCÍPIOS DE ÍNDOLE, MORAL, HONESTIDADE !" . Espero que, pelo menos nisso, eu tenha cumprido com minhas obrigações de pai e cidadão. Eu sei que se não puder mudar o mundo exterior, pelo menos vou sempre perserverar para mudar o meu interior.
Fernanda e Rodrigo

O SNOOPY enquanto esteve comigo recebeu muito carinho, amor e dedicação !

Eu passeava com ele várias vezes ao dia, pois não acho justo que um animalzinho fique recluso em uma casa, mesmo com muito espaço e quintal grande, quando há um mundo lá fora com outros animais passeando e é muito importante relacionar-se, socializar-se.

Sempre levei o SNOOPY pra passear logo cedo e sem colocar a Guia em seu pescoço de forma que ele sentisse a importância da liberdade e que aprendesse a ser responsável e obediente, já que sempre foi calmo e brincalhão até com desconhecidos. A única coisa que o SNOOPY não gostava (além de ração) era quando eu voltava pra casa e ele ainda queria ficar na rua, na praça, correndo na grama e brincando com os garotos que estavam jogando bola. Nessa hora de voltar, às vezes eu colocava a guia pra que ele não fugisse.

Ontem, sábado, quando eu voltava com ele pra casa, logo às 7 e meia da manhã, ele resolveu não entrar em casa. Correu pra brincar com dois outros cachorrinhos presos na casa vizinha. Olhei e fiquei pensando: “ele quer brincar com eles que estão do outro lado do portão, presos, e que nunca seus donos os levam pra passear. Bem, vou deixar porque assim ele faz a sua boa ação diária!”

Entrei em casa e falei pra minha mãe: “O Snoopy está lá fora pra fazer amizade com os cachorros da casa vizinha!” Fui várias vezes chamar o Snoopy e ele não queria entrar em casa.

Meia hora depois da ultima vez que fui chamar ele não estava mais. Alguém levou embora...

A correntinha de ouro que a Fernanda achou, não tinha nome e endereço do dono. O dinheiro que o Rodrigo achou, também não tinha nome e endereço, ...

Espero que o SNOOPY pelo menos seja bem tratado com muito carinho, dedicação e amor...

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